quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A POESIA CONTEMPORÂNEA POR MARISA GONÇALVES DE ALMEIDA SANTOS







POESIA & CANÇÃO – UM FLERTE










Não desmerecendo sequer um dos nossos grandes poetas imortais, penso que, a poesia contemporânea, vai muito além de regras, técnicas e estéticas da escrita, mas ela deixa aflorar sentimentos e questionamentos que refletem as dores e o grito da multidão calado na garganta. O poeta contemporâneo empresta a voz poética ao povo indignado, ele é o detentor privilegiado de levar à tona as várias questões existencialistas da alma. É o clamor da mulher injustiçada, das classes desfavorecidas, do pouco caso e dos acasos da vida. A poesia contemporânea reflete a reação do inconformismo quanto a assuntos devastadores em diversos âmbitos que permeiam o mundo. O poeta traz consigo a riqueza da palavra que se torna cúmplice e amante de ideologias diversas.




Retorno um pouco no tempo, vamos nos deter um pouco aos tempos da Ditadura militar no Brasil. Era evidente a repressão e censura cultural e artística de 1964, onde cantores, compositores, artistas, escritores e poetas tiveram que se calar para não sofrer as represálias de um governo autoritário que paulatinamente colocava as “manguinhas de fora” e restringiam ao máximo a expansão da cultura no país. Os “anos de Chumbo” atacaram sem a mínima piedade, todos que consideraram contra o regime vigente, consequentemente, estes por sua vez, em resposta aos constantes ataques do governo, tiveram que criar artifícios e estratégias variadas, para que seu trabalho fossem liberados. Lançaram mão de metáforas, criaram jogos de linguagens, se aproximando muito dos poetas concretistas (brincando com as palavras). Cantores como Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Novos Baianos, Raul Seixas, Edu Lobo, Jair Rodrigues, Elis Regina. Moraes Moreira, Baby Consuelo, Pepeu Gomes e muitos outros, foram abordados, sentenciados, censurados e amordaçados em sua liberdade de expressão. Notem que as canções destes autores maravilhosos são pura poesia, deixando o eu lírico aflorar-se e falar por si mesmo. Mas afinal, o que é uma canção, senão uma poesia? Pois relata a própria vida em sua essência, em ritmo, prosa e versos.




Fomos marcados pela censura, mas o tempo procurou apagar tais episódios trazendo à tona cantores e autores com a poesia tatuada na alma. Foi-se a década de 60 e vieram os hippes, com a ideologia da “Paz e Amor” (década de 70), seguidos pelos Titãs, Barão Vermelho (Cazuza), Legião Urbana e Ira (década de 80), Vale aqui se lembrar de Tom Jobin (Bossa Nova) e Vinícius de Moraes (Poeta Lírico), que entoavam letras recheadas de indignações a fatos que marcaram a época, sem contudo, nunca deixar do lado o lirismo poético bem elaborado, e principalmente acessível a todas as gerações e todas as camadas sociais.




As palavras, não podem ser encapsuladas e direcionadas somente a determinadas classes sociais e muito menos encarceradas em decorrência de decretos repressores absurdos e não servir a nenhuma. Existe uma linha tênue entre a poesia e a canção, ambas estão sempre flertando, e esta cumplicidade deve fluir e flutuar no ar, alcançando todos os ouvidos, todas as sensibilidades e possibilidades de interpretação, derrubando barreiras e tirando o ser humano do estado de torpor e dormência. Eis a riqueza da poesia, da escrita, ou seja, a conexão total com o ser humano. Poesia é vida, é transcendência, é dar e se doar, é forçar a reflexão, é ser geradora de mudanças.




O Pós-Modernismo quebrou os grilhões, e a palavra saiu vencedora. E hoje pede passagem para sua liberdade da Escrita. Trouxe ferramentas tecnológicas eficazes, através da Internet e Redes Sociais, para que a escrita atravessasse fronteiras, desbravasse corações e mentes sem nunca perder o lirismo adequado.




É quase inviável citar um autor de destaque, pois a gama é vastíssima, pois todo autor que exprime um fato ou um sentimento passando pelo viés do coração é um poeta por excelência.




Mas se homens e mulheres do passado se eternizaram através da poesia, o que dizer dos dias atuais? A valoração do poeta vivo não pode deixar passar despercebidos três nomes, contemporâneos meus, grandes amigos e poetas líricos: Juscelino Vieira Mendes (o Jusça), poeta baiano de Vitória da Conquista, Ivete Cassiani Furegatti (a Ivetinha), poeta paulistana, e Edenilda Franchi Andrade (a Éden), poeta mineira. Todos radicados em Campinas/SP. A importância deles não é pelo grau acadêmico que possuem, ou por suas condecorações pomposas, não querendo de forma alguma desmerecer tais condecorações. Mas os traços que o evidenciam são um caráter inabalável, sobriedade, visão e transparência na arte da expressão poética. Transitam confortavelmente entre varias tendências,do Romantismo ao Simbolismo, sem prejuízo algum ao texto.




São exemplos de poetas contemporâneos vivos que me fizeram trilhar o caminho das letras e não podem cair no esquecimento jamais.




Encerro esta exposição com pequenos fragmentos dos textos poéticos destas pessoas maravilhosas.




SONHOS PRETÉRITOS




[...] Quanto sinto a finidade se aproximar




Recolho-me




Olho para o mar em quietude e gratidão




Acolho-me em sonhos pretéritos [...]




(BALÉ DO ESPÍRITO – Mendes, Juscelino Vieira-Campinas: Editora Komedi, 1999-p. 66).




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LABIRINTO




[...] Há tantas entradas e saídas do labirinto da vida que,




perante as encruzilhadas, só nos resta a dúvida [...]




(V COLETÃNEA KOMEDI-Vários autores (entre eles: Furegatti, Ivete Cassiani, Editora Komedi, Campinas-2001-p. 143).




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CHUVAS DE ESTRELAS




[...] o revoar das estrelas com seu estonteante brilho, retornando aos seus lugares. A brisa com sua suavidade afaga a natureza.




O silêncio se transforma em canção. O avermelhado do céu cai no horizonte e fiel na sua recomposição faz voltar tudo o que é belo[...]




(V COLETÂNEA KOMEDI-Vários autores (entre eles: Andrade, Edenilda Franchi, Editora Komedi-Campinas-2001-p. 62).




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BIBLIOGRAFIA




Dreguer, Ricardo/Toledo, Eliete, História-9º-Ed. Saraiva SP, 2009.




Mendes, JuscelinoVieira-Balé do Espírito-Campinas-SP: Editora Komedi, 1999.




______________, V Coletânea Komedi, Campinas, SP, 2001.




Bechara, Evanildo C.(Org.) Dicionário Escolar da Academia Brasileira de Letras- Cia.editora Nacional, SP, 2011.







MARISA GONÇALVES DE ALMEIDA SANTOS-CADEIRA 24

anlppb - academia nacional de letras do portal do poeta brasileiro




7 comentários:

  1. Um texto que nos faz flutuar em verdades.
    A poesia contemporânea é sim, o grito que sai das mãos dos poetas representando as tantas Marias e Joões injustiçados, o pedido de socorro da natureza , as paixões alucinadas...
    Parabéns Marisa, pelo brilhante trabalho!

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  2. Noite alta, sono pós dia e cansaço beirando a anestesia, encontro suas palavras recheadas de carinho e amizade, Marisa. Muito obrigado. Beijos.

    PS.: Os primeiros versos são: "Quando sinto a finitude chegar...".

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  3. Querida Marisa, que honra ter sido citada por você. Que surpresa maravilhosa!!!!!!
    Obrigada pelo carinho e consideração.
    Sucesso, sempre. Você merece. ]
    Bjs,Ivete Cassianji Furegatti

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