quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Literatura Brasileira: Das origens às Redes Sociais por Lin Quintino




Literatura Brasileira: Das origens às Redes Sociais










a poesia é


indivisível, parte da intimidade do homem, é “dom e fruto de um momento de graça”, que se


manifesta superando qualquer força humana.


Ungaretti (1994)








Gostaria de voltar um pouco no tempo e falar da Literatura no Brasil para situar melhor como esta foi se desenvolvendo ao longo da história. Aqui, ela aparece incentivada pelos jesuítas, depois do descobrimento durante o século XVI, ainda, bastante ligada, de princípio, à literatura metropolitana, ela foi ganhando independência com o tempo, iniciando o processo, durante o século XIX, com os movimentos romântico e realista e atingindo o ápice com a Semana de Arte Moderna em 1922, caracterizando-se pelo rompimento definitivo com as literaturas de outros países, formando-se, portanto, a partir do Modernismo e suas gerações as primeiras escolas de escritores verdadeiramente independentes.


A partir da Semana de Arte Moderna (1922), a poesia moderna busca um estilo estético e temático diferente (do estrangeiro) até então tido como modelo, mas procurando apresentar o homem do Século XX, enfronhado por um sistema político-capitalista dominador, e que vive em um espaço de contradições de valores, e acaba perdendo a sua identidade. Segundo PAES (1990),


Ao voltar-se para o cenário cotidiano, o poeta não quer vê-lo com os olhos da rotina. Propõe-se antes vê-lo com os olhos novos da ‘ignorância que descobre’, mesmo porque ‘a poesia é a descoberta das coisas que eu nunca vi’ [...]. Ver o já-visto como nunca-visto equivale a inverter radicalmente as regras do jogo, fazendo do cotidiano o espaço da novidade e do literário o espaço da rotina ou contenção.


Assim, a poesia moderna busca romper com o passado como fonte de inspiração e instala uma maneira diferente de expor os temas e as ideias que vão retratar o contexto do indivíduo e do Brasil, criando uma nova cara para a poesia brasileira. Conforme afirma DEL PICCHIA apud. COUTINHO, (1997), no discurso proferido por ele no segundo dia da Semana de Arte Moderna:


Queremos libertar a poesia do presídio canoro das fórmulas acadêmicas, dar elasticidade e amplitude aos processos técnicos [...]. Queremos exprimir nossa mais livre espontaneidade dentro da mais espontânea liberdade”. Criar uma poesia puramente nacional, com características representativas da sociedade brasileira, que no momento se encontra conturbada pelo avanço tecnológico e industrial. Uma poesia engajada, que represente e denuncie essa realidade estarrecedora.






É nesse cenário, então, que surge a poesia concretista, representada por Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos e pelos poetas da segunda geração modernista brasileira, João Cabral de Melo Neto, Sousândrade e Oswaldo de Andrade, que dá por encerrada a tradição histórica do verso ritmo-formal, e, vai a expressão poética livre, a realidade humana.


A partir de 1970, a poesia se volta mais intensamente para o cotidiano brasileiro e se vê em meio à vertente das linhas tradicionais, como o regionalismo e o urbanismo, representados principalmente pelos consagrados Carlos Drummond de Andrade, João Cabral, Lygia Fagundes Telles, entre outros, e ainda da vertente da ruptura, formado por um grupo de escritores ecléticos, com referências existenciais, histórico-social e filosófico diferenciados. São autores que, com uma pluralidade de estilos poéticos e obras que incorporam a particularidade de cada autor, procuram representar, aos seus modos, a situação do país, como nos poemas de estilo: Poema-processo, Poesia-social, Tropicalismo, Poesia-marginal e Poesia-práxis, por exemplo, que descontentes com os valores poéticos tradicionais, buscam novos caminhos para retratar as tensões de um país sufocado pelas forças políticas repressoras. Descolam do domínio das teorias acadêmicas, e buscam explicar formalmente o homem e suas ações por meio de uma poesia tradicionalmente pré-estabelecida. São obras que, por meio de uma escrita que incorpora o verso livre e a licença poética, exploram tanto a norma culta, quanto à cotidiana.


Os poetas que assim agiram, passaram a viver às margens da Literatura Oficial, e começaram a construção de uma poesia espontânea. Dessa forma, o autor, por meio de sua escrita engajada, busca denunciar sua indignação, objetivando impactar a população e levá-la a uma reflexão a respeito de si mesma.


Segundo FRIEDRICH, (1978) a “poesia deixa de lado a particularidade do poeta e se rende ao esforço de interpretar o universo coletivo dos homens, tornando-se, portanto, um recurso para registro da história, assinalando a perda de sua gratuidade e o seu uso enquanto objeto de crítica à sociedade, que não tem como principal interesse fundar valores, mas criticar os valores já existentes e embutidos na sociedade.” Nomes como Armando Freitas, Ivan Junqueira e Paulo Leminsk, Manoel de Barros, Cora Coralina, Gilberto Mendonça Telles e Afonso Romano de Sant’Anna, que incorporaram a essa poesia uma gama de inovações temática e estética.


Também, merece destaque a poesia feminina, que praticamente excluída da cena vanguardista, encontra em Ana Cristina César e Leila Miccollis, Olga Savary, Marly de Oliveira e Adélia Prado, que não pertencem a nenhum grupo e representam um resgate para a poesia lírica brasileira, com obras voltadas unicamente para a subjetividade pessoal. Por meio de uma linguagem típica do feminino, representam poeticamente o universo cotidiano e o estado de alma propriamente do indivíduo feminino, que faz da inspiração poética algo que nasce da subjetividade, e, ao mesmo tempo, de fora, como uma forma de desabafo em função precisamente das circunstâncias exteriores. São mulheres que, segundo Vianna (1995), saem do confinado espaço das cozinhas e alcovas, espalham-se e apossam-se também das salas varandas, jardins e dividem com os homens espaços, ocupações e principalmente linguagens que eram antes inacessíveis, e ganham um novo espaço para expressar seus mais íntimos desejos. Como se pode ler no poema “Grande desejo”, de Adélia Prado (1991):


Não sou matrona, mãe de Gracos, Cornélia,


Sou mulher do povo, mãe de filhos, Adélia.


Faço comida e como.


Aos domingos bato o osso no prato pra chamar


o cachorro e atiro os restos. (...)





Ainda, temos produções literárias de alguns escritores brasileiros contemporâneos que, através de suas obras, cumprem com sua responsabilidade tanto no campo social quanto no campo de divulgar a Literatura e o poeta brasileiro, dentre eles destaco: Aline Romariz, Lu Narbot, Marco Hruschka, Alice Alba, dentre outros. Como se pode ler no poema “Meditação”, de Lú Narbot










Meditação


Agora eu tenho tempo de olhar lá fora


E ver o sol.


Mas já não há mais sol.


Por que é que na vida


Ou passamos correndo demais


E nada vemos,


Ou,


Quando paramos,


Nada mais há para se ver?






Mas, as mudanças continuam e a tecnologia trouxe, também, pra Literatura um novo campo, e o que percebe atualmente é um novo movimento que surge com as Redes Sociais. Podemos dizer que diante deste novo contexto, os poetas se mostram e se revigoram, e que estão mais perto da população, e têm mais facilidade de passar o seu recado. Notamos que ocorre, hoje, uma impressionante expansão das obras literárias que estão nos blogs e pelas redes sociais, ou se monitoram pelos celulares. O mundo inteiro se tornou virtual.


Enfim, as redes sociais vieram, entre outras coisas, para acender a vela da poesia nas almas e nos corações dos poetas. Até mesmo aqueles que, escondidos por razões diversas, não se mostravam, aos poucos vão se mostrando, e, de repente, eis, há mais uma poesia no ar, voando, são sonhos. E, como disse Raimundo Correia, em seu soneto "As Pombas": "Os sonhos, um por um, céleres voam, como voam as pombas dos pombais."






REFERÊNCIA






COUTINHO, Afrânio. (direção): COUTINHO, Eduardo de Faria (co-direção). A literatura no Brasil: Era Modernista. 4 ed. revista e atualizada. São Paulo: Global, 1997. Volume 5.


FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna. Trad. Marise Curioni. São Paulo: Duas Cidades, 1976.


PAES, J.P. Cinco livros do modernismo brasileiro. In:______ A aventura literária: ensaios sobre ficção e ficções. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 63-93.


PRADO, Adélia. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.


RAMALHO, Angela. A Poesia Brasileira Contemporânea. Disponível em: < http://anlppb.blogspot.com.br/2013/11/a-poesia-brasileira-contemporanea.html>. Acesso em 23 dez 2013.





SECCHIN, Antônio Carlos. Poesia e desordem: escritos sobre poesia & alguma prosa. Topbooks, 1996.

7 comentários:

  1. Parabéns, Lin Quintino, pelo seu excelente trabalho, aliás, uma verdadeira aula de Literatura Brasileira. Fico aguardando nosso próximo encontro para aprender ainda mais. Agradeço a citação de meu nome e poema, com o que fiquei muito honrada. Abraços

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  2. Um belo trabalho. Leitura atrativa e instrutiva. Parabéns!

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  3. VIVENDO E APRENDENDO! OU MELHOR, LENDO E APRENDENDO!!!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Parabéns pelo texto. Além de uma maravilhosa escritora de poesias, sabes escrever ensaios.

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  6. Excelente trabalho, Lin Quintino! Ah, obrigada pela citação do meu nome nas referências! E esse poema da Lu Narbot é show!!! Parabéns!!!

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  7. Lin, antes de escrever poesia, todos deveriam ler seu textos, porque não se faz o moderno sem conhecer o passado, sem respeitar a história. Para criar em verso livre é necessário ao menos conhecer os princípios do verso acadêmico, para se explorar as novas formas de linguagem é preciso dominar as antigas, as formais... abraços

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