domingo, 17 de novembro de 2013

POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA POR LU NARBOT

Poesia Brasileira Contemporânea
Lu Narbot
I – Conceito
A Poesia Brasileira Contemporânea é aquela que começa a ser feita a partir de 1945, após o Modernismo, e vem até os dias atuais.

II - Introdução
O Modernismo não foi apenas um movimento literário, mas um movimento cultural e social abrangente, que promoveu a reavaliação da cultura brasileira. Liderado por Oswald e Mário de Andrade, começou oficialmente com a Semana de Arte Moderna, de 13 a 18 de fevereiro de 1922.
O Modernismo iniciou a fase mais produtiva da literatura brasileira. O livro inicial deste movimento foi Paulicéia Desvairada (1922) de Mário de Andrade.
A contribuição mais importante do Modernismo foi a defesa da liberdade de criação. Na Poesia, abandonaram as formas poéticas rígidas, valorizaram os temas cotidianos, tratados sem rebuscamento, com linguagem simples. Também é uma poesia de questionamento social, filosófico, religioso, em que o poeta deve estar inserido e refletir o mundo que o rodeia. De São Paulo e Rio de Janeiro, o movimento modernista espalhou-se por todo o Brasil.
Além dos líderes Mário e Oswald de Andrade, fizeram parte do Modernismo: Manuel Bandeira, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Vinicius de Morais, Murilo Mendes.
Seguiu-se uma terceira geração (1945 a 1980), autodenominada Geração de 45, que vinha em oposição às inovações modernistas, por isto foi também chamada de Pós-modernista.
No início dos anos 1940 surgem dois poetas que não se filiam esteticamente a nenhuma tendência, e que são considerados os representantes mais importantes da geração de 45: João Cabral de Mello Neto e Lêdo Ivo.

III – Poesia Contemporânea
Nos anos 1950, como uma reação ao Movimento Modernista, surgiu a Poesia Concreta. Seus fundadores foram Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos ao criar, em 1952 a revista “Noigrandes” (que significa antídoto contra o tédio, em linguagem provençal). Entretanto, a Poesia Concreta só foi oficialmente lançada em 1956, com a Exposição Nacional de Arte Concreta, em São Paulo. A proposta principal da Poesia Concreta é a utilização do espaço gráfico, sem preocupação com a tradição de começo, meio e fim. Por isso, o poema é denominado poema-objeto. Outras características desta poesia são: realismo total contra a expressão da subjetividade, a eliminação do verso, uso de neologismos e termos estrangeiros, exploração da sonoridade das palavras, a possibilidade de múltiplas leituras e o aproveitamento de todo o espaço em branco da página para a disposição das palavras. A comunicação visual é a forma de expressão da Poesia Concreta.
Em 1959, o maranhense Ferreira Gullar e outros poetas cariocas, romperam com o Concretismo e fundaram o Neoconcretismo, insurgindo-se contra o que chamavam de normatização e dogmatismo do Concretismo.
Em 1964, Ferreira Gullar retoma o verso discursivo e os temas sociais, visando retratar uma época e ter maior comunicação com o leitor.
Após o golpe militar e o AI 5, surge a Poesia de Resistência, com Ferreira Gullar, Affonso Romano de Sant’anna, Chico Buarque, Gianfrancesco Guarnieir, Oduvaldo Vianna Filho e Antonio Callado, entre outros.
Nos anos 1970 surgiu a chamada Poesia Marginal, porque não tinha vínculos com as grandes editoras, era produzida de forma independente e não convencional, em gráficas de fundo de quintal, e vendida em portas de cinema e teatros. Em 1980 houve uma “chuva de poesia”, lançada do alto do edifício Itália, em São Paulo. As poesias eram manifestações de denúncia e protesto, que zombavam da cultura e falavam do mundo imediato do próprio poeta.

Alguns poetas não se filiam a nenhuma destas tendências, construindo uma obra pessoal. Entre eles, Adélia Prado, Manoel de Barros, Cora Coralina.

IV - Poetas Contemporâneos
Escolhi entre os poetas contemporâneos, para este trabalho, pela diversidade de seus estilos, Manoel de Barros, Adélia Prado e Paulo Leminski.

Manoel de Barros(Cuiabá, 19/12/1916)
Manoel de Barros, cronologicamente pertence à geração de 45, mas formalmente, aproxima-se mais do Modernismo Brasileiro. Foi considerado por Carlos Drummond de Andrade, o maior poeta vivo brasileiro.

A Menina Avoada – XIII

O riacho
que corre por detrás de casa
cria uma espécie de madrugada rasteira
de viçar meninos...
(do livro Compêndio para uso dos pássaros)

Adélia Prado - (Divinópolis 13/12/1935)
Adélia Prado, embora escrevesse sonetos desde os 14 anos, só publicou seu primeiro livro, Bagagem, em 1976, aos 40 anos, e já mãe de cinco filhos. Em sua obra, Deus, a fé cristã, a religiosidade são constantes, assim como o seu cotidiano de cidade pequena.

Trégua

Hoje estou velha como quero ficar.
Sem nenhuma estridência.
Dei os desejos todos por memória
e rasa xícara de chá.
(do livro Bagagem)

Paulo Leminski (Curitiba, 24/08/1944 – 07/06/1989) –
Em 1964, o curitibano Paulo Leminski começa a publicar suas Poesias na Revista Invenção, publicada pelos concretistas. Herda do Concretismo a construção, os recursos visuais, mas une a isto a coloquialidade. Aproxima-se também dos poetas marginais, pela publicação não convencional de seus poemas.

Do Livro Caprichos & Relaxos

Aves
        de ramo
                    em ramo

meu pensamento
                         de rima
                               em rima
                                            erra

até uma
            que diz
                        te amo.





V – Conclusão
Neste início do século XXI, múltiplas são as tendências da Poesia Brasileira, sem preocupações com normas que a possam engessar, e utilizando-se de diferentes mídias para manifestar-se. No mundo atual, o poeta não apenas expressa sua emoção ou traduz e interpreta a alheia, sua função é, também, questionar e incomodar.
Com o advento da internet, muitos poetas foram surgindo no país. Se anteriormente lhes era impossível publicar, agora o fazem com constância e quantidade na mídia virtual. Nossa Academia, a ANLPPB, é um exemplo de como a internet pode reunir talentos que vivem fisicamente distantes, mas que conseguem comunicar-se e enriquecer seu universo.  Contrariando as previsões, a Poesia não só não morreu, mas continua mais viva do que nunca. Novas formas surgiram, como o Poetrix, a Aldravia, o Overtrip, etc.
Ao contrário do que ocorreu nos séculos passados, todas as formas de poesia convivem pacificamente. Cada poeta é livre para escolher a melhor forma de dizer o que deseja naquele momento.
Entretanto, alerta-nos Fabiano Fernandes Garcez, no texto A Poesia Contemporânea em Debate, publicado no Recanto das Letras:
“Há um grande problema na poesia brasileira, é que ela ainda vive em pequenos grupos de amigos, ainda não chegou ao grande público, há poucas, mais do que antes é verdade, mas ainda poucas, discussões e encontros sobre poesia.”

“Porém, a poesia por seu caráter, edificante e revolucionário, de questionar a realidade, tem que chegar às calçadas, às ruas, aos guetos, enfim a todos, sem exceção, porque quando questionamos a nossa realidade racional damos vozes à nossa irracionalidade emocional e inconsciente, que é o que precisamos entender que o ser humano necessita de algo bem mais caro do que o dinheiro pode comprar.”

8 comentários:

  1. Belíssimo texto, conciso e esclarecedor. É muito útil para se ter uma visão abrangente da poesia contemporânea. Parabéns e obrigado, Lu Narbot!

    ResponderExcluir
  2. Belíssima escolha: Manoel de Barros é um encanto!E quanto a Paulo Lemininski... Amo!

    ResponderExcluir
  3. Belíssimo texto. Realmente um dos grandes entraves da poesia contemporânea brasileira é estar fragmentada em pequenos grupos e, dentro destes, muitas vezes, o ego inflado não deixa espaço para a poesia. Encantei-me também com a escolha dos poetas. Grato por compartilharmos deste histórico tão bem retratado. Abraço

    ResponderExcluir
  4. Agradeço a JM Della Rosa, Liz Rabello e Geraldo Sant'Anna pelas gentis e incentivadoras palavras ao meu texto.

    ResponderExcluir
  5. Parabéns! Só o fato de ser poeta já é uma dádiva... mas, quando podemos presentear alhures com ricas informações sobre este tema, e ainda fomentar um maior compromisso com a sociedade... isso é exercer e viver a vida com poesia.

    ResponderExcluir
  6. Parabéns! Enriquecedor e muito bem trabalhado o seu texto.

    ResponderExcluir
  7. Agradeço a Hernandes Leão e Rosana Nóbrega a gentileza da leitura e comentários.

    ResponderExcluir
  8. Lu, seu texto nos conduz pelos caminhos primordiais da poesia brasileira, com suas estruturas, escolas e rompimentos necessários para se chegar à poesia livre atual. abraços

    ResponderExcluir