terça-feira, 12 de novembro de 2013

POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA POR LIZ RABELLO

POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA

A vida sempre nos surpreende... Encontra-se em constante mudança. Vivemos uma época de novos valores. A era Gutemberg ficou para além do século passado. O livro impresso perece de morte? Diante de tantos livros digitais a resposta me parece óbvia. Até porquê nós nos pegamos a ler muito mais pela Internet do que dentro das folhas viradas. Há de se culpar o conhecimento que nos alça novos voos? Há de se querer voltar páginas de livros antigos? Há de se ter a sensação desagradável de vivermos lá atrás, na contramão do curso da História? É possível fugir ao próprio tempo?

Tenho o hábito de gostar do olho no olho, ir ao Banco, puxar uma cadeira e conversar com minha gerente. Diálogo honesto, sincero, nós nos tornamos amigas. Poderia ter telefonado? Afinal um celular à mão resolve tudo, com rapidez maior, mais eficiente. Mas nenhuma tecnologia substitui o diálogo de mãos que se apertam. Assim é com o livro. Meu olho desvendando letras, mistérios de outros corpos, de outras mentes, descobertas de sentimentos inusitados. No entanto, percebo nos adolescentes um desejo cada vez maior de se comunicar pela telinha. Passei pela experiência de observar duas jovens conversando pelo Face book... Até aí nada de novo, a não ser que estavam uma ao lado da outra, na mesma Sala de Informática, em dois computadores diferentes!

Espelho, espelho meu, quem é mais feia do que Eu? Não, nunca me achei feia, nem mesmo bela. Qual a visão de mim mesma? Por mim? Na ausência de espelhos, numa infância muito pobre, como conseguia me saber? Penso que sempre me vi pelos olhos úmidos de emoção de meu pai. Era puro amor, encantamento! A mais bela imagem refletida. Por suas palavras doces e elogios tinha uma fotografia de mim mesma muito agradável e segura. Sentia-me com pés no chão, mais brilhante como a mais bela estrela. Foi assim comigo, mas não é o mesmo com os mais jovens. Hoje o espelho substitui o olhar do outro.

No colégio em que trabalho existe um elevador. Às vezes é impossível usá-lo, porque fica parado no primeiro andar, para que os alunos possam mirar-se ao espelho. Fila indiana para a visita ao psicólogo: o complexo de Narciso em alta. Não são mais águas de um lago, são espelhos mesmo. Na impossibilidade, serve qualquer outro meio: o celular está de bom tamanho. Flashes e flashes no intervalo inteiro, por vezes até durante a aula, com direito a boquinhas de Angelina Jolie ou dedos em sinal de paz.

Cada meio de comunicação nascido revela forças interiores de outros meios. Percebo nos adolescentes que o celular é um brinquedinho, se fotografam, se escrevem mensagens, se procuram. Trocam celulares uns dos outros, para se “olharem” mutuamente. Um ao lado do outro. Pego meus meninos se alimentando de auto-imagem narcisista, muito mais do que se comunicando com os outros. O celular, o MP3, o tablet, são extensões de seus próprios corpos. O livro impresso é um elemento antigo. Representa o passado. E eles se vestem de presente.

Toda tecnologia nasce para nos inflamar de mais poderes. Supera limites do corpo humano. O tablet substitui o caderninho de notas, o teclado do computador substitui a máquina de datilografia, que por sua vez é uma possibilidade de extensão de dedos, que com o auxílio de canetas, lápis, cadernos escrevem nosso mundo interior. No entanto, nenhum programa de computador, nenhuma imagem, nada, absolutamente nada, existe sem o toque do ser humano. O homem é a essência! E neste fluxo, de dentro para fora de seu mundo interior está a poesia contemporânea.

Certa vez decidi trazer para a rotina da sala de aula poemas inéditos. Não dos mestres: Cecília Meirelles, Carlos Drummond, Pablo Neruda. Que poetas assim, tão conhecidos, já são declamados demais. O projeto da Escola era Humanizar o Jovem no mundo da Tecnologia. A proposta chegou rápida: Vamos pesquisar poetas anônimos. Descobrir caminhos novos. E num repente, junto com os adolescentes, Luciana Dimarzio, a minha frente:

“Brotam-me palavras
puras
cruas
nuas
para vesti-las a meu bel prazer
(fatigo-me das roupas emprestadas)”

Esta poetisa, cuja família está em primeiro lugar, mora em Campinas, São Paulo, e seu talento com as palavras se revela num maravilhoso livro de poemas e frases Reversos (in) Versos, pela Editora Braspor, publicado em Dezembro de 2012. Em março do ano seguinte já foi laureada com o prêmio Mulher Destaque na Literatura pelo CPAC (Centro de Poesias e Artes de Campinas). Em maio deste ano recebeu o prêmio Troféu Staff de Ouro 2013 pelo destaque cultural. Mas quando a conheci pela Internet, era apenas a Lu do Face book, a Luciana do Canto da Lu, com um Blog gostoso de ler, já mostrando um talento insuperável com as palavras, que a fez conquistar permanentemente a Cadeira número dois da Academia Nacional de Letras Portal do Poeta Brasileiro.

“Escrever é transformador. Sempre que me converto em palavras já não sou a mesma. A cada metamorfose, sinto-me não necessariamente melhor, porém mais inteira.”
(Luciana Dimarzio)

Assim procurando blogs é que descobrimos a talentosa poetisa Adriane Lima, que ocupa a Cadeira Cinco na Academia Nacional de Letras Portal do Poeta Brasileiro, em cuja simplicidade adolescentes encontram rios de ternuras:

Fiz um pacto com a Lua.
Engravido as palavras
 formas redondas e uterinas
de lá saem os poemas
 minha salvação e sina...
 Adriane Lima

No entanto, não são todos os lugares do nosso imenso e desigual Brasil que são contemplados com equipamentos tecnológicos, de fácil acesso aos nossos jovens. Neste palco da indiferença, ressalto o trabalho valioso de Maria Alves Lamanna. Não é professora, nem sequer conseguiu cursar ainda uma universidade. Seu grande sonho! Mas suas ações demonstram o ser humano lindo que é. Mora na cidade de Rio Preto, em Minas Gerais, no pequeno povoado de São Pedro do Taguá, zona rural, onde a pobreza impera. Atriz, roteirista, escritora, compositora, escultora, poetisa e declamadora como ninguém o faz, tem um trabalho voltado para o Incentivo à Leitura: “Poesia Pra que te Quero”. Neste pequeno povoado, onde nasceu, criou uma biblioteca, contando com a solidariedade dos amigos. Hoje suas ações se encontram para além de uma leitura bem aprimorada pelas crianças, poetas, trovadores e escritores, pessoas humildes escrevem um novo destino.  Membro da ANLPPB, Cadeira Vinte, é representante do Núcleo do Portal do Poeta Brasileiro no Estado de Minas Gerais.

Quando pensamos riscamos um destino, quando falamos compartilhamos ideias, mas quando escrevemos nosso ato é de fato existente e não há como retomar o caminho. Se publicamos o outro toma posse de nossos pensamentos e uma grande teia de palavras se faz existir. O valor da tecnologia está nesta possibilidade de trocas rápidas, sem se falar de como é bem mais fácil o contato com as Editoras. Pelo menos por enquanto: o livro nunca esteve tão vivo como agora. Nem a poesia.

E se por um lado é possível salientar o valor da tecnologia, por outro, quem tem convivência com jovens sabe o quanto querem frequentar a Sala de Leitura dos colégios. Ficam de olhos extasiados procurando em livros poemas que gostam de ler, histórias que amam saber, amores que adoram descobrir.

Quem tem experiência com Saraus entre os jovens sabe muito bem que adoram apresentar poemas de própria autoria. Sentem-se mais seguros. Se fosse verdade que jovens não gostassem de ler, como se explica este fascínio pela escrita? Muitos adolescentes mantêm cadernos de poesias em rascunho, à moda antiga, escritos com desenhos em forma de corações. Qual a origem deste percurso? Os sentimentos: Amor sempre está em alta. Nunca morre!

Não sou

Maria Alves Lamanna

Não sou um soneto
Não sou uma trova
Sou um dedo de prosa
No meu caminhar
E assim vou andando
Tentando entender
No seu jeito de ser
O amor...
E o amar...
Não sou um soneto
Mas queria ser
O lirismo de Camões
Que mesmo em chamas
Seria um amor
De belas canções.

Liz Rabello


  

6 comentários:

  1. Gostei muito do raciocínio e reflexões contidas em seu texto. Destaco a questão dos adolescentes. Eles realmente escrevem e escrevem muito bem. Há um mundo incrível a ser mais explorado e valorizado. Parabéns!

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  2. Uma excelente análise do papel da Literatura em nossas vidas, das mudanças de padrões de comportamento que a tecnologia nos trouxe. E o aspecto fundamental que representa o trabalho com crianças e adolescentes, para manter viva a Poesia. Poesia que, ao mesmo tempo que ilumina a vida, tem papel social importante. Parabéns, Liz.

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  3. Liz, fez uma abordagem que nos leva à reflexão, para análises críticas de nosso papel. Parabéns!

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  4. Amigos, penso e sinto que o maior desejo de um escritor é ser lido. Valorizar o que os jovens escrevem e promover situações de trocas: "Chocolate com Poesia"... "O amor está no ar"... Saraus Itinerantes... São momentos lúdicos, capazes de nos fazer perceber o quanto estamos vivos e necessitamos de amor.

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  5. uma prosa contagiante, para homenagear a poesia, a poetisa, a poética de hoje. abraços

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  6. Elisabete sua expressão reflexiva nesse trabalho, foi muito bem fundamentado, deixando transparecer a pessoa íntegra, amorosa e humana que é. Penso que o sentimento AMOR sempre estará reinando no coração humano e motivando-o a buscar seu lugar ao sol e ao coração de outras pessoas. Parabéns!

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