Falar de Poesia Brasileira Contemporânea significa falar
da poesia que se produz hoje em território nacional. Quem são os poetas
brasileiros contemporâneos? Quantos são? Onde estão? Que estilo de poesia produzem?
Eduardo Vaack, poeta brasileiro contemporâneo, afirma que
“a poesia produzida atualmente no Brasil
é bastante diversificada, possuindo inúmeras cores, tendências e matizes”.
Já a jornalista Andréia Martins, contrariando outros
posicionamentos sobre o tema, afirma que a poesia brasileira não saiu de cena e
que os poetas brasileiros contemporâneos continuam ativos, criativos e
irreverentes. É inegável a importância da Poesia Brasileira Contemporânea e nunca
se viu tantos blogs e tanta disseminação de poesias nas redes sociais por esse
país.
Atualmente vejo muitos poetas (e me incluo entre eles),
divulgando seus escritos nas redes sociais, em blogs, jornais, revistas
eletrônicas, publicando em antologias, participando de lançamentos e eventos
literários, numa verdadeira ânsia em obter reconhecimento. Não que isso não
seja importante ou não deva ser o objetivo de escritores iniciantes. A esse
respeito, a Revista Eutomia, especializada em literatura e linguística, em
artigo sobre a Poesia Brasileira Contemporânea, afirma:
“Parece não ser vital que o poeta se interesse pelos meios
que seus escritos chegarão às pessoas, se a
obra é marginal
ou não, nem se a poesia chegará a ter, hoje ou amanhã, a atenção que é
dada à prosa, o que na verdade não interessa,
pois não é a partir
disso que deve acontecer algum
parâmetro, mas sim no que ela pode
oferecer como investigação para o mundo”.
Talvez,
antes da preocupação em divulgar nossa produção literária, deveríamos nos
perguntar: O que a nossa poesia pode oferecer como investigação para o mundo?
Quanto
ao mundo penso que seja algo muito amplo ou abstrato, mas nossa poesia pode
oferecer uma gama de investigações para a nossa cidade, o estado em que moramos
e principalmente ao nosso país.
O
nosso olhar para a poesia não deve distanciar-se da realidade social. A Poesia
Brasileira Contemporânea será tão importante, tão lida ou tão valorizada, na
exata proporção em que incomodar.
Em
abril de 2013 uma comitiva de poetas contemporâneos entregou no Senado Federal
a obra “Manifesto Poético pela Paz”. Antes mesmo que o país acordasse e se
organizasse para as manifestações de rua que assolaram o país durante o mês de
junho, poetas brasileiros contemporâneos pertencentes ao Portal do Poeta
Brasileiro (cerca de cinco mil poetas) e a ANLPPB – Academia Nacional de Letras
do Portal do Poeta Brasileiro (aproximadamente cem poetas) reivindicaram
providências através da sua arte.
A
sensibilidade desses poetas sinalizou antecipadamente que as coisas no país não
estavam bem. Não havia nenhum sinal de manifestações, mas os poetas brasileiros
abriram caminho, numa atitude até então inédita.
Aline
Romariz e Teco Seade, respectivamente Presidente e Diretor Cultural do Portal
do Poeta Brasileiro e da ANLPPB assim se pronunciaram, abrindo o manifesto:
“Chega de escrever a História do Brasil com tinta
vermelha. Não aguentamos mais boletins diários regados à lágrimas de mães,
cenas dramatizadas pelo desespero de pais, vazios em vidas de jovens
que ainda não possuem o macro entendimento do que está acontecendo quando enterram um
amigo. Nós somos mais
que isso. Nós temos que ser mais que isso. Não é possível
que o Brasil, esse celeiro de talentos, continue
adubando suas terras
com carne humana ceifada de suas famílias. Quantos mais terão ido? Quantos
mais terão tirado a roupa aos 07 ou 10 anos de idade,
para o turismo sexual? Quantas mais terão ficado grávidas dentro de casa? Quantos
mais espancamentos de mulheres,
crianças e idosos? Diante de tudo isso,
nossa poesia sobrevive. E sobrevive para gritar. Gritar muito alto. E
continuará gritando aos quatro cantos enquanto houver desmando, impunidade,
opressão, ignorância, fome e corrupção.
Que Deus nos perdoe. E que assim seja”.
Eugène
Delacroix, pintor francês que viveu de 1798 a 1863, já dizia que “o mais belo trunfo de um escritor é fazer
pensar os que podem pensar”. E olhem que isso foi dito por um pintor!
Acontece
que tanto a pintura quanto a literatura, assim como as artes em geral, devem
levar à reflexão quem delas sofre influência. O escritor, independente de ser
amador ou não, tem responsabilidade social. Sua escrita contém a sua visão de
mundo, mas ele não pode esquecer que exerce papel fundamental na formação de
seus leitores.
Refletindo
sobre a produção literária de alguns escritores contemporâneos, cito aqui três
autores brasileiros que, com suas obras, cumpriram com sua responsabilidade
social de me fazerem pensar: São eles: Lu Narbot, Marco Hruschka e o poeta
parnaibano Diego Mendes Souza.
Lú Narbot escreve de forma clara, usa
de suavidade com as palavras, transcreve a realidade nua e crua, mas com
tamanha sutileza, que não consegue nos assustar ou ferir. Dona de um lirismo
extraordinário, seus textos nos fazem meditar, como no poema abaixo:
Meditação
Agora eu tenho tempo
de olhar lá fora
E ver o sol.
Mas já não há mais sol.
Por que é que na vida
Ou passamos correndo
demais
E nada vemos,
Ou,
Quando paramos,
Nada mais há para se
ver?
Marco Hruschka dispensa apresentações. Ele mesmo se
apresenta: “Eu escrevo para que as pessoas sintam e pensem em
demasiado, para que saiam da normalidade de suas vidas. Para mim, a literatura
tem a função de tirar o indivíduo de seu eixo. É dessa forma que procuro
contribuir”.
E ele
literalmente nos tira do eixo quando escreve algo assim:
Semitonar-se
Às vezes só os bemóis
me acalmam...
Porque no sofrimento
semitonado
Encontro a fonte das
dores que exalam
Tudo aquilo que não
posso suportar.
Existe ali uma
angústia...
Algo anterior ao
mundo...
Uma
coisa que jaz...
E que ao mesmo tempo
Faz com que eu
renasça!
O sofrimento é
revigorante!
Quem não sofre não é
feliz!
Não vejo sequer uma
luz ao longe,
Nem perto, nem nunca
E mesmo assim tudo
cresce em mim.
Mas a esperança é a
primeira que morre.
E é justamente isso
que dá sentido
A essa posição fetal
na qual eu me encontro.
Me encontro...
A vida é um eterno
semitonar.
Diego Mendes Souza, com o seu
“Candelabro de Álamo” me ganhou quando disse: “Acredito
na poesia que eu proponho te fazer escutar”.
Precisa mais? Não! Sou toda ouvidos
para escutar a poesia que me propões!
A poesia está
soprando novamente
Amolinda, tenho que
dizer
Que a poesia está
viva
Dentro de mim.
A poesia está
soprando novamente, Altair.
Eu que permaneço em
silêncio
E a poesia me rapta
Sem que eu creia
Nas divindades.
Olho os teus olhos
E sei que a poesia me
busca
Veloz e sorrateira
Como um astro
andaluz.
Encontro as tuas mãos
navegantes
Nos meus abismos de
manhãs.
A poesia vem com a
aurora em neblina
E em teus cabelos se
faz passageira.
A cigana e a fera
A minha febre
Derradeira.
Angela, gostei muito de seu texto. Ainda ontem estive lendo a Revista Eutomia, pois, como não tenho formação acadêmica em Literatura, preciso prepara-me para escrever o trabalho. E chamou-me a atenção exatamente o trecho que você coloca em seu trabalho. E quero agradecer você ter-me incluído entre os poetas que analisa. Obrrigada.
ResponderExcluirAngela, parabéns. Sempre bom apreciar textos bem produzidos e que traduzem temas relevantes, em especial este que trata justamente do nosso movimento poético. Reitero a importância dos poetas citados na poesia contemporânea. Grande abraço.
ResponderExcluirObrigada Lu Narbot, esse trecho da Eutomia me fez pensar. Será que essa correria atrás de divulgação é válida? De repente, você leva um "cutucão" e alguém diz que o parâmetro não é por aí. Mas creio que deixaremos na nossa poesia parâmetros investigativos para o mundo. A sua é plena deles! Sou sua fã!
ResponderExcluirObrigada amigo Geraldo Sant'anna! Acho super válido Aline nos propor esses estudos. Precisamos estudar e nos fundamentar mais. Só assim cresceremos enquanto grupo!
ResponderExcluirAngela, parabéns pela contextualização. O trabalho ficou muito bom.
ResponderExcluirRosana Nobrega
Meus parabéns pelo trabalho, Angela. Ficou de primeira. Fico muito honrado em saber que me admira e ainda mais por ter citado meu nome no teu artigo. Grande abraço!
ResponderExcluirObrigada Rosana Nóbrega e Marco Hruschka pelos comentários! Marco é um jovem poeta talentoso, aqui da minha cidade e sinto-me meio que "madrinha" em ter intermediado sua entrada na ANLPPB. Nem precisa agradecer, meu amigo! Seus versos falam por si! Abraços!!!
ResponderExcluirSeu texto claro e preciso expõe a triste realidade de nosso país. Em contrapartida nos convence que nós poetas do Portal do Poeta Brasileiro e acadêmicos da ANLPPB temos nas mãos a poesia para transformar cenários políticos e sociais. Parabéns!
ResponderExcluirObrigada Tereza Azevedo! Que bom saber que nossa poesia assume essa característica transformadora e que este é o caminho!!!
ResponderExcluirAmiga, Angela parabéns pela sua bela desenvoltura na temática, oportunizando boas reflexões! Só hoje consegui tirar um bom tempo e ler os trabalhos já entregues. Tenho aprendido muito. Grata por sua contribuição!
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