sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

FILME "21 GRAMAS" (2003), ALEJANDRO GONZÁLES

 


I – INTRODUÇÃO:

“O diretor do também famoso “Amores Brutos” dá continuidade, no filme “21 Gramas”, ao estilo Novo mas representativo de uma forma inusitada e esteticamente definida nessa ambiência plural do mundo do cinema. Sua inclusão nesta lista se justifica pela contemporaneidade dos temas trabalhados e pela forma extremamente singular de tratar esses temas. O filme parece um entrecruzar de estruturas de contos que se fragmentam, se esfacelam e ao mesmo tempo, como se fosse por bricolagem, se remontam e se organizam de forma harmônica no conjunto da obra. A morte, a questão do transplante, a questão do aborto, a questão da droga e sobretudo a questão da carência do homem contemporâneo formam o tricô dessa obra exemplar que paira o tempo todo numa pergunta não respondida – o peso e o sentido da vida.” (www.fgvsp.com.br)

II – TÉCNICAS DE MONTAGEM:




O mexicano Alejandro Gonzáles, diretor do longa-metragem indicado ao Oscar “Amores Brutos”, está de volta à cena com o drama “21 Gramas”, filme que tece reflexões sobre a vida, a morte e a relação que os vivos têm com a morte.

O filme é falado em inglês e conta com Sean Penn, Naomi Watts e Benicio Del Toro.
O estilo quebra-cabeças faz o espectador ficar em alerta desde a cena inicial, com um misto espantoso de hiper-realismo, complexidade visual e temática poderosa. Como é de seu feitio, Alejandro Gonzáles, amarra a história inserida como um caleidoscópio, o que reforça o tempo do espírito, cheio de idas e vindas, permanências (mais nas tragédias) e abandono (mais nas epifanias).
Realizado pela mesma dupla responsável pelo excepcional, “Amores Brutos” (mesmo roteirista Guillermo Arriaga e o diretor Alejandro González), “21 Gramas” segue um estilo parecido ao daquele filme ao narrar histórias paralelas que acabam se entrecruzando em um momento-chave da trama.
O ritmo do filme é determinado pela edição, Alejandro e o diretor de fotografia Rodrigo Prieto rodaram quase o filme inteiro com a câmera segurada na mão. As cores são insaturadas, às vezes se aproximando de um quase preto e branco. O realismo intransigente do filme, assim, intensifica-se e o espectador observa um mundo transfigurado.
O diretor mexicano utilizou-se de câmeras “ocultas”, apresentando as personagens numa estrutura fictícia esquemática, gerando no espectador um estado quase meditativo. Desse modo, surge indagações que, em qualquer outro filme, poderiam soar pomposas, mas que neste caso, soam inteiramente pertinentes, tornando a atuação dos atores mais real, criando um clima denso ao filme e conseguindo extrair nesta complexa trama, interpretações sólidas e desprovidas de qualquer tipo de afetação pretensiosa, como por exemplo: Naomi Watts que só vem comprovar seu talento; Benicio Del Toro que confere dignidade a Jack Jordan, o que é fundamental para o que o espectador se envolva com seu drama, já que, de outra maneira, a natureza ambígua do sujeito poderia torná-lo antipático aos olhos do público e a Sean Penn, onde o ator se envolve em um projeto que estuda difíceis relacionamentos familiares e a dor provocada pela perda de alguém querido.
O filme avança e recua no tempo. Mas a estratégia não consiste em confundir o espectador, e sim, em cativar seu processo mental de maneiras que uma narrativa linear possivelmente não conseguiria inspirar. Pelo fato de estar tanto à frente quanto atrás da narrativa, o espectador fica mais livre para especular e contemplar a maneira como o destino atua e as vidas se interligam.
Alejandro Gonzáles “brinca” com a cronologia de suas histórias, obrigando o espectador não apenas saltar de uma narrativa para outra, como também deparar-se em momentos diferentes de cada trama e não fornecendo nenhuma pista que nos ajude a decifrar sua estrutura, obrigando-nos a trabalhar às cegas. Com isso, fatos que julgamos ter acontecido no “passado” podem se revelar, mais tarde, como ocorrências futuras. É como se o filme nos convidasse a participar de sua montagem. Por outro lado, o roteiro de “21 Gramas” acaba exagerando ao revelar detalhes importantes com muita antecedência, o que elimina parte do impacto que deveria surpreender o espectador no terceiro ato.
Conclusão: “21 Gramas” é um filme interessantíssimo, tanto pela força das interpretações, já que o ótimo elenco se entrega sem reservas aos infelizes humanos que habitam o filme, como pela sua estrutura narrativa brilhante e pela temática penetrante tanto do ponto de vista emocional quanto intelectual.

III – CONTEXTO HISTÓRICO:

“21 Gramas” é um filme contemporâneo e traz uma série de temáticas polêmicas: transplante, destino trágico, dor da perda, inseminação artificial, religiosidade, maternidade, drogas, prisão, culpa etc

IV – SÍNTESE DO ENREDO:

Ao longo da projeção somos apresentados a três famílias: Paul Rivers (Sean Penn), um professor de matemática em fase terminal de uma doença cardíaca, e sua esposa, Mary (Charlotte Gainsbourg), que está determinada a engravidar dele por meio de inseminação artificial; Cristina Peck (Naomi Watts), que deixou uma vida de drogas e farras através do casamento estável com um arquiteto (Danny Huston) e do nascimento de suas duas filhas e, Jack Jordan (Benicio Del Toro), ex-presidiário e sua esposa, Marianne (Melissa Leo).

Vivendo em realidades completamente distintas, os três protagonistas (Paul, Cristina e Jack) têm suas vidas alteradas depois que uma tragédia une seus caminhos. Um acidente matando o marido de Cristina e suas duas filhas desviam a trajetória de todas essas vidas, deixando os sobreviventes arcados sob o peso de um sentimento de culpa avassalador. A vida continua, é o que lhes dizem. Será que continua mesmo? Se sim, onde está á esperança de sobrevivência para aqueles que sofrem, mas continuam a viver?
Alejandro Gonzáles rejeita as respostas fáceis e as caracterizações óbvias – parece estar dizendo ao espectador que é ele mesmo quem deve decifrar as respostas. E, não facilita as coisas, não julga suas personagens. Ele os mostra como indivíduos confusos e contraditórios que lutam para enfrentar forças que estão além de sua compreensão.
Será que Deus os traiu? Ou eles próprios se traíram? O que devemos aos mortos? Onde vamos buscar esperança e redenção? Como ter uma vida boa? Por meio de Deus? Ou, apesar de Deus? Vinte e um gramas seria o peso que a pessoa perde quando morre, será esse o peso e a medida da alma humana?
A mortalidade é o problema com que todas as personagens se defrontam. Alguns estão perto de morrer, outros estão próximos de pessoas que morreram há pouco.
Cristina é, sem dúvida, a personagem que percorre o maior arco dramático do roteiro, já que, de mulher feliz e serena, transforma-se em um símbolo de depressão e ódio até chegar ao estado emocional no qual se encontra ao fim da história, seu desejo por vingança.
A personagem em um diálogo com seu pai, afirma que: “(…) sua vida nunca será a mesma, sempre existirá uma lacuna, nunca suprida, e que ela não compreendia como seu pai conseguia sorrir novamente após a morte de sua esposa.”
Paul é ameaçado, todos os dias, por uma morte suspensa, esperando que surja um doador para o transplante de coração. Ele vive fragilizado perante a mortalidade e a cobrança de sua esposa em ter um filho seu, representando a continuidade do amor deles. Porém, esse amor por parte de Paul já não existe, seu relacionamento é uma farsa e mesmo o milagre do transplante o faz reviver, mas não revive o amor dos dois.
Apesar da dor de Paul parecer ter predominância física, o seu vácuo não é menor. Ele quer saber tudo sobre o doador do novo coração que ele agora, leva consigo, o que o leva a conhecer Cristina. Vem mais um paradoxo: Paul pode se regozijar por sobreviver, mesmo que essa sobrevida seja um resultado de uma tragédia sem volta?
Jack luta para reconstruir sua vida depois de passar um tempo indeterminado na prisão. Lá encontrou Jesus, converteu-se e passou a viver com dignidade e propósitos. No entanto, enfrenta o preconceito da sociedade. Jack enfrentará muitas dificuldades para conseguir restabelecer-se, no entanto, sua esposa, Marianne, às vezes sente saudades do Jack antigo.
Um acidente trágico colocará Jack à frente de novas provações de fé.
O diretor explorando a existência física e emocional dessas três personagens durante um período de vários meses entrelaçará os seus destinos numa história em que os levará aos limites do amor, às profundezas da vingança e à promessa de redenção. Entretanto, para que o equilíbrio espiritual de alguns deles seja recuperado, será necessário muito sacrifícios dos outros, intercalando-os com uma dor incessante em suas trajetórias. Enfim, trágico, diga-se de passagem, é um termo que se aplica aos três protagonistas de “21 Gramas”, já que, na realidade, nenhum deles pode ser “culpado” pelo que aconteceu, nem mesmo Jack.
Jack, Paul e Cristina são apenas pessoas comuns que procuram encontrar algum sentido para suas vidas, mas que, de alguma forma, parecem “marcadas” para sofrer.

V – TEMÁTICA: 

Alejandro Gonzáles trabalha o enigma da morte de maneira humanizada e fotográfica.
A meditação sobre a morte é um ato universal e partilhado por todos os seres humanos.
A metáfora contida no título traduz muito bem o objetivado pelo diretor no decorrer da película: “diz-se que perdemos 21 gramas no momento exato da nossa morte. O peso de uma pilha de moedas, de uma barra de chocolate, de um colibri. Será ele o peso da vida ou o peso da alma?”
O contraste dessa medida ínfima é assustador comparando-se com a imensidão do fardo que deixamos para os que ficam.
O filme é uma reflexão penetrante que todos estamos destinados. A sua visão da morte é perturbadora e vai se tornando mais clara e nítida quando ela se aproxima para a coleta das almas. É desconcertante a condução que o cineasta nos leva: uma encruzilhada, onde vários caminhos se cruzam, mas não há uma saída única e positiva – a única certeza é que, o ser humano perderá um dia, 21 gramas, talvez, o peso de sua alma.

O destino trágico:

Três vidas, três destinos que se cruzam e contemplam a morte de frente.
Jack após sua regeneração e aceitação de Jesus, como seu salvador e sentindo-se protegido; é colocado á mais uma provação, levando-o a questionar a existência de um Deus bondoso, afirmando: “O inferno está aqui!”
Jack exibe em tintas mais sociais o sistema prisional massivo, igrejas frequentadas por perdedores de sonhos e uma imensa dor da alma.
Podemos constatar sua angústia espiritual, seu conflito íntimo e existencialista ao testemunharmos seu intenso remorso com relação ao acidente. Afinal, quem é esse Deus que nos mostra um caminho novo e depois, atira-nos de volta ao inferno?
Cristina após uma vida desregrada também, regenera-se, através do amor e da família, até o acidente colocar fim a todos os seus sonhos.
Paul é movido por uma culpa injustificada, já que sua participação no ocorrido (acidente e transplante) foi a de um elemento passivo. Mas, é precisamente seu esforço para corrigir algo que não pode ser reparado que o torna tão trágico.
O filme, enfim, retrata uma história de esperança e humanidade; de resistência e sobrevivência e de dor que lança suas personagens a um destino trágico.

Liberdade versus Destino:

No curso da existência é que o homem vai decidir acerca de seu próprio destino. O futuro está sempre em aberto, e ele será preenchido por um projeto, que é fruto de uma escolha e de uma decisão. O homem é livre na exata medida em que introduz o nada no mundo. E, como isso é inerente à condição humana, não há como não ser livre. Daí a célebre frase: “o homem está condenado a ser livre.”
A obrigação de ser livre gera a angústia, que deriva do sentimento de não estar predestinado, de ter de optar construindo ao mesmo tempo o fundamento da opção. É excesso de poder sobre o homem que gera o medo.
Paul, Jack e Cristina fizeram suas escolhas livremente, optaram pelo caminho da vida, da religião e da família; mas, seus destinos os surpreenderam, trazendo a dor e a experiência de que a existência “não vale á pena”. Sentindo-se fragilizados perante a força do destino e de Deus, as personagens tornam-se incapazes de seguirem sua trajetória de vida, tornando-se niilistas perante a existência humana.
O enredo do filme leva as personagens se colocarem frente a si e a seu destino desnudado do aparato lógico. Elas não se vêem diante de um sistema de ideias e ideologias, mas diante de fatos, mais precisamente de um fato fundamental que nenhuma lógica pode explicar: o destino e a finitude humana.

VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Por volta de 1400, o modo metafísico de pensar começa a ser seriamente questionado pela mesma consciência racional que até então se dedicara a ele! Uma série de razões de ordem econômica, política e cultural está à base desse questionamento. É que a explicação metafísica tornara-se insatisfatória para a consciência filosófica que vai emergindo no início da era moderna.
A realidade, a cultura ocidental, em decorrência de todo o desenvolvimento econômico e social da Europa, coloca à disposição dos homens outros instrumentos e recursos que lhes permitem ir além das conclusões metafísicas.
Tudo começa com a insatisfação de novos pensadores com as explicações trazidas pela metafísica, a essa altura ainda compromissada com a teologia cristã!
Começa a se questionar a tutela que a teologia exercia sobre a filosofia e a ideia de que a razão natural dos homens ficava na dependência da graça divina e devia ser orientada e corrigida pela fé.
Já na Idade Moderna, quando o homem passa a ocupar o centro do universo, achando-se então mais autônomo em relação a Deus, sentia-se menos temeroso em relação ao mundo que passava a considerar como uma realidade meramente natural. Essa “independência” em relação à figura de Deus tinha lá suas vantagens, mas também suas desvantagens: de um lado, o homem passava a se valorizar mais, a dominar a natureza e a enfrentar os seus problemas com mais objetividade e menos fantasias, por exemplo, o desenvolvimento da técnica e da medicina (transplante, aborto e inseminação artificial). Na cosmovisão cristã medieval nem o mundo material nem o corpo humano podiam ser manipulados porque eles eram considerados como receptáculos de Deus, merecendo assim absoluto respeito. As desvantagens vinham no plano da própria consciência (a culpa pela morte das duas meninas e do senhor). Iluminada pela fé, a razão medieval tinha muita segurança e tranquilidade, pois estava certa de que poderia sempre conhecer a verdade, uma vez que tinha sempre à sua disposição o auxílio esclarecedor da revelação divina, mediada pelos textos bíblicos e pelo magistério da Igreja.
Além disso, o homem moderno descobre sua subjetividade. Enquanto o pensamento antigo e medieval parte da realidade inquestionada do objeto e da capacidade do homem de conhecer, surge na Idade Moderna a preocupação com a “consciência da consciência”. O problema central é o problema do sujeito que conhece não mais do objeto conhecido. Antes se perguntava: “Existe alguma coisa?”, “Isto que existe, o que é?”. Agora o problema não é saber se as coisas são, mas se nós podemos eventualmente conhecer qualquer coisa.
Outros temas apresentados no filme são: a dor e a doença; amor e perda e o ato responsável.

 


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Vera Lucia Martins Salbego


 Vera Lucia Martins Salbego: A Multifacetada Atuante da Literatura e da Cultura Gaúcha**

Vera Lucia Martins Salbego, conhecida artisticamente como Vera Salbego, natural de Uruguaiana - RS, nasceu em 29 de agosto e tem construído uma trajetória admirável na literatura e na arte ao longo dos anos. Formada em Letras pela PUC-RS, com Pós-Graduação em Psicopedagogia e Mestrado em Literatura Latina, Vera é uma educadora dedicada, lecionando no Ensino Médio e Fundamental.
Sua jornada na literatura teve início em 1985, através da participação no Clube de Poetas Uruguaianenses em sua cidade natal. Desde então, Vera não só contribuiu para diversas antologias, tanto nacionais quanto internacionais, como também conquistou prêmios significativos de publicação. Destaca-se a Menção Honrosa recebida no Concurso Nacional Mário Quintana, realizado na cidade de Alegrete - RS, um reconhecimento importante em sua carreira.
Entre suas conquistas literárias, Vera é autora de dois livros: *Vitrine do Coração* (2004) e *Caminhos* (2006), ambos lançados na prestigiada Feira do Livro de Porto Alegre - RS. Não se limitando à literatura, Vera se aventurou no cinema, dirigindo dois curtas-metragens premiados em festivais em Porto Alegre e Guaíba: *Sonhos e Lendas* (2003) e *Silêncio* (2004). Sua versatilidade artística também se reflete na autoria do Hino da Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Rita de Cássia, contribuindo para a identidade cultural da comunidade local.
Ativa na cena literária, Vera é membro da AGES (Associação de Escritores Gaúchos) e integra a Academia e Sala de Poetas e Escritores Virtuais. Seus escritos são publicados em plataformas como Recanto das Letras, Poetas Del Mundo e Revista Paralelo 30. Em reconhecimento ao seu impacto cultural, Vera recebeu, em dezembro de 2006, um diploma por sua contribuição ao desenvolvimento da cultura na Grande Porto Alegre, oferecido pelo Jornal Revolução Cultural.
Em 2007, Vera também se destacou no Livro de Projetos Educacionais da Secretaria de Educação do Município de Guaíba, um projeto voltado ao incentivo à leitura. Junto com a poetisa Carmen Laranjeira, é responsável pela Revista Poética Duplicidade, enriquecendo o cenário literário gaúcho.
O comprometimento e a relevância de Vera na literatura a levaram a se tornar membro correspondente da Academia Porto-Alegrense de Letras, além de ser uma Acadêmica Imortal e Patronesse Perpétua de Cadeira Patronímica da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba Grande, no Rio de Janeiro. Se destaca também por ter recebido a Comenda Lobo da Costa da Academia de Letras e Artes de Porto Alegre-RS, assim como a Medalha Leonardo da Vinci, outorgada pela Academia Niteroiense de Belas Artes, Letras e Ciências – ANBA, em 2012.
Em suma, Vera Salbego é uma figura de destaque não apenas na literatura, mas também na educação e na promoção da cultura gaúcha, deixando um legado que inspira futuras gerações de escritores e artistas.
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quinta-feira, 10 de outubro de 2024

A Trilha do Cotidiano

 Crônica


A Trilha do Cotidiano
Acordo antes do sol despontar no horizonte. O despertador toca, e o som repetitivo parece quase ironizar minha vontade de

permanecer embaixo das cobertas. Com um esforço considerado, me levanto, e já no ritual matinal começo a esboçar a rotina que se repete noite e dia: café, escovar os dentes, vestir-me para o dia que se revela pela janela.
Enquanto o aroma do café enche a cozinha, um lembrete sutil é lançado ao ar: as pequenas lembranças de amigos que ligam para um "como você está?" ou os familiares que resistem ao tempo. A vida, nesse instante, se desdobra entre o trivial e o significativo, revelando-se como um mosaico de momentos.
Ao sair, a cidade aguarda. Os rostos apressados, os carros e a sinfonia dos sons urbanos dançam ao redor de mim. Uma nova realidade se impõe a cada passo. A rotina do trabalho, as reuniões, os e-mails, tudo isso pulsa como o coração da metrópole. Mas há uma magia escondida na repetição que me faz descobrir a beleza nas pequenas coisas: o sorriso de um desconhecido, a luz do sol filtrada entre as árvores, o sabor de um lanche que me faz lembrar da infância.
Os dias passam, como as estações do ano, e cada um traz algo novo. A cada desafio enfrentado, uma lição. A vida me forma como um escultor que pacientemente molda a argila, e ao olhar para trás, percebo que todos os acontecimentos, os sorrisos e lágrimas, compõem não apenas uma narrativa, mas o tecido da minha formação.
Nos fins de semana, busco escapar da rotina. Um passeio no parque, um livro que consome as horas ou conversas longas com amigos. É nesse espaço de liberdade que recupero as energias e relembrar o que realmente importa: as conexões. O trivial aos olhos de muitos acaba por ser a essência da felicidade.
À noite, ao me deitar, olho para o teto e faço uma prece silenciosa. Agradeço pelos dias, pelos desafios, pelas conquistas e pelas lições. E enquanto a cidade adormece ao meu redor, eu me deixo levar pelos sonhos, moldando nossa história que vai além do cotidiano. Afinal, é essa a trajetória que compõe a minha vida, uma crônica de simplicidade e profundidade, repleta de significados que muitas vezes escapam para aqueles que apenas olham a superfície.
Vera Salbego 
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A Sabedoria nas Mãos de um Professor

 A Sabedoria nas Mãos de um Professor

Certa manhã ensolarada, sentava-me ao lado de um pai preocupado, que desabafava sobre a educação do filho. Ele mencionou que, apesar de ter uma carreira sólida, a valorização que sua profissão recebia era pífia. Fui levado a refletir sobre a figura do professor, um ser humano que molda o futuro, mas muitas vezes é relegado a um segundo plano na sociedade.
A escola, um microcosmos da vida, é o palco em que professores desempenham papéis cruciais. Eles não apenas transmitem conhecimento, mas também cultivam valores, estimulam a curiosidade e, principalmente, ensinam a sonhar. No entanto, essa missão nobre frequentemente encontra barreiras: salas superlotadas, salários defasados e a falta de reconhecimento. O ato de ensinar, que deveria ser celebrado, muitas vezes é visto como um fardo.
Em uma sala de aula, observei o Professor Ricardo, que apresentava uma nova unidade sobre sustentabilidade. Seus olhos brilhavam com entusiasmo, e ele falava sobre o impacto das ações individuais na preservação do planeta. As crianças escutavam com atenção. Ele não ensinava apenas ciência; ele cultivava cidadãos conscientes. Mas à tarde, ao sair da escola, ouvi-o lamentar que a sociedade não valorizava seu esforço.
A desvalorização vai além do salário. Ela se reflete na falta de apoio, nas reuniões que nunca acontecem e nas promessas quebradas. O professor se sente um guerreiro lutando em uma batalha sem fim contra a indiferença. Mas, curiosamente, mesmo diante dessa adversidade, muitos permanecem firmes, movidos por uma paixão genuína pela educação.
É pertinente lembrar que, ao desvalorizar os educadores, desvalorizamos o próprio futuro. A educação é a base de uma sociedade próspera, e os professores são seus alicerces. Quando reconhecemos e valorizamos o trabalho de um professor, estamos investindo em um legado que perdura. Um professor valorizado se sente motivado a ir além, a inovar em suas aulas e a inspirar seus alunos.
Assim, após a conversa com o pai, percebi que precisamos, como sociedade, mudar essa narrativa. Valorização não é apenas um ato de gratidão; é um reconhecimento de que a educação transforma vidas. Que possamos ampliar a visão sobre o papel do professor, não como um personagem secundário, mas como protagonista inquestionável na construção de um amanhã melhor.
E, enquanto o sol se punha naquela tarde, foi mais do que um simples sorriso lançado a um aluno; havia ali a semente de um futuro repleto de possibilidades, plantada por aqueles que, com amor e dedicação, se dispõem a ensinar. A importância de um professor não deve ser medida apenas por sua trajetória profissional, mas pelo impacto duradouro que deixa na vida de cada aluno. Sabe-se que cada elogio e cada reconhecimento são um sopro de vida em sua jornada. Que possamos, todos, aprender a valorizar esses mestres que têm em suas mãos a sabedoria do mundo.
Vera Salbego
Professora/ Escritora
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