quinta-feira, 10 de outubro de 2024

A Trilha do Cotidiano

 Crônica


A Trilha do Cotidiano
Acordo antes do sol despontar no horizonte. O despertador toca, e o som repetitivo parece quase ironizar minha vontade de

permanecer embaixo das cobertas. Com um esforço considerado, me levanto, e já no ritual matinal começo a esboçar a rotina que se repete noite e dia: café, escovar os dentes, vestir-me para o dia que se revela pela janela.
Enquanto o aroma do café enche a cozinha, um lembrete sutil é lançado ao ar: as pequenas lembranças de amigos que ligam para um "como você está?" ou os familiares que resistem ao tempo. A vida, nesse instante, se desdobra entre o trivial e o significativo, revelando-se como um mosaico de momentos.
Ao sair, a cidade aguarda. Os rostos apressados, os carros e a sinfonia dos sons urbanos dançam ao redor de mim. Uma nova realidade se impõe a cada passo. A rotina do trabalho, as reuniões, os e-mails, tudo isso pulsa como o coração da metrópole. Mas há uma magia escondida na repetição que me faz descobrir a beleza nas pequenas coisas: o sorriso de um desconhecido, a luz do sol filtrada entre as árvores, o sabor de um lanche que me faz lembrar da infância.
Os dias passam, como as estações do ano, e cada um traz algo novo. A cada desafio enfrentado, uma lição. A vida me forma como um escultor que pacientemente molda a argila, e ao olhar para trás, percebo que todos os acontecimentos, os sorrisos e lágrimas, compõem não apenas uma narrativa, mas o tecido da minha formação.
Nos fins de semana, busco escapar da rotina. Um passeio no parque, um livro que consome as horas ou conversas longas com amigos. É nesse espaço de liberdade que recupero as energias e relembrar o que realmente importa: as conexões. O trivial aos olhos de muitos acaba por ser a essência da felicidade.
À noite, ao me deitar, olho para o teto e faço uma prece silenciosa. Agradeço pelos dias, pelos desafios, pelas conquistas e pelas lições. E enquanto a cidade adormece ao meu redor, eu me deixo levar pelos sonhos, moldando nossa história que vai além do cotidiano. Afinal, é essa a trajetória que compõe a minha vida, uma crônica de simplicidade e profundidade, repleta de significados que muitas vezes escapam para aqueles que apenas olham a superfície.
Vera Salbego 
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A Sabedoria nas Mãos de um Professor

 A Sabedoria nas Mãos de um Professor

Certa manhã ensolarada, sentava-me ao lado de um pai preocupado, que desabafava sobre a educação do filho. Ele mencionou que, apesar de ter uma carreira sólida, a valorização que sua profissão recebia era pífia. Fui levado a refletir sobre a figura do professor, um ser humano que molda o futuro, mas muitas vezes é relegado a um segundo plano na sociedade.
A escola, um microcosmos da vida, é o palco em que professores desempenham papéis cruciais. Eles não apenas transmitem conhecimento, mas também cultivam valores, estimulam a curiosidade e, principalmente, ensinam a sonhar. No entanto, essa missão nobre frequentemente encontra barreiras: salas superlotadas, salários defasados e a falta de reconhecimento. O ato de ensinar, que deveria ser celebrado, muitas vezes é visto como um fardo.
Em uma sala de aula, observei o Professor Ricardo, que apresentava uma nova unidade sobre sustentabilidade. Seus olhos brilhavam com entusiasmo, e ele falava sobre o impacto das ações individuais na preservação do planeta. As crianças escutavam com atenção. Ele não ensinava apenas ciência; ele cultivava cidadãos conscientes. Mas à tarde, ao sair da escola, ouvi-o lamentar que a sociedade não valorizava seu esforço.
A desvalorização vai além do salário. Ela se reflete na falta de apoio, nas reuniões que nunca acontecem e nas promessas quebradas. O professor se sente um guerreiro lutando em uma batalha sem fim contra a indiferença. Mas, curiosamente, mesmo diante dessa adversidade, muitos permanecem firmes, movidos por uma paixão genuína pela educação.
É pertinente lembrar que, ao desvalorizar os educadores, desvalorizamos o próprio futuro. A educação é a base de uma sociedade próspera, e os professores são seus alicerces. Quando reconhecemos e valorizamos o trabalho de um professor, estamos investindo em um legado que perdura. Um professor valorizado se sente motivado a ir além, a inovar em suas aulas e a inspirar seus alunos.
Assim, após a conversa com o pai, percebi que precisamos, como sociedade, mudar essa narrativa. Valorização não é apenas um ato de gratidão; é um reconhecimento de que a educação transforma vidas. Que possamos ampliar a visão sobre o papel do professor, não como um personagem secundário, mas como protagonista inquestionável na construção de um amanhã melhor.
E, enquanto o sol se punha naquela tarde, foi mais do que um simples sorriso lançado a um aluno; havia ali a semente de um futuro repleto de possibilidades, plantada por aqueles que, com amor e dedicação, se dispõem a ensinar. A importância de um professor não deve ser medida apenas por sua trajetória profissional, mas pelo impacto duradouro que deixa na vida de cada aluno. Sabe-se que cada elogio e cada reconhecimento são um sopro de vida em sua jornada. Que possamos, todos, aprender a valorizar esses mestres que têm em suas mãos a sabedoria do mundo.
Vera Salbego
Professora/ Escritora
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