Crônica
A Trilha do Cotidiano
Acordo antes do sol despontar no horizonte. O despertador toca, e o som repetitivo parece quase ironizar minha vontade de
permanecer embaixo das cobertas. Com um esforço considerado, me levanto, e já no ritual matinal começo a esboçar a rotina que se repete noite e dia: café, escovar os dentes, vestir-me para o dia que se revela pela janela.
Enquanto o aroma do café enche a cozinha, um lembrete sutil é lançado ao ar: as pequenas lembranças de amigos que ligam para um "como você está?" ou os familiares que resistem ao tempo. A vida, nesse instante, se desdobra entre o trivial e o significativo, revelando-se como um mosaico de momentos.
Ao sair, a cidade aguarda. Os rostos apressados, os carros e a sinfonia dos sons urbanos dançam ao redor de mim. Uma nova realidade se impõe a cada passo. A rotina do trabalho, as reuniões, os e-mails, tudo isso pulsa como o coração da metrópole. Mas há uma magia escondida na repetição que me faz descobrir a beleza nas pequenas coisas: o sorriso de um desconhecido, a luz do sol filtrada entre as árvores, o sabor de um lanche que me faz lembrar da infância.
Os dias passam, como as estações do ano, e cada um traz algo novo. A cada desafio enfrentado, uma lição. A vida me forma como um escultor que pacientemente molda a argila, e ao olhar para trás, percebo que todos os acontecimentos, os sorrisos e lágrimas, compõem não apenas uma narrativa, mas o tecido da minha formação.
Nos fins de semana, busco escapar da rotina. Um passeio no parque, um livro que consome as horas ou conversas longas com amigos. É nesse espaço de liberdade que recupero as energias e relembrar o que realmente importa: as conexões. O trivial aos olhos de muitos acaba por ser a essência da felicidade.
À noite, ao me deitar, olho para o teto e faço uma prece silenciosa. Agradeço pelos dias, pelos desafios, pelas conquistas e pelas lições. E enquanto a cidade adormece ao meu redor, eu me deixo levar pelos sonhos, moldando nossa história que vai além do cotidiano. Afinal, é essa a trajetória que compõe a minha vida, uma crônica de simplicidade e profundidade, repleta de significados que muitas vezes escapam para aqueles que apenas olham a superfície.
Vera Salbego
Ver menos
— em Rio Grande do Sul.