segunda-feira, 18 de novembro de 2013

POESIA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL POR FABIO RENATO VILLELA

Vivemos uma época singular e paradoxal. De um lado, o culto à matéria, ao instantâneo, ao superficial e no outro extremo, a busca pela essência e pela transcendência. A busca por algo que ultrapasse o imediatismo e assegure ao homem a sua condição de ser que pensa, crê e, principalmente, sente. Busca-se a poesia.
...

Sergio Bittencourt disse que “ninguém é poeta por saber rimar”.

É certo. Pois, ainda que seja louvável a busca por palavras de sons iguais e composições métricas, não está aí o quê se pode definir como poesia.

Em perfeito pari-passu com a história do homem, a poesia adquiriu com o correr do tempo as mais variadas formas, passando por versos alexandrinos, parnasianos, românticos, simbolistas, concretos etc. até que em meados da década de 1920, chegou-se ao predomínio dos versos livres. Ao predomínio do conteúdo e não da forma.

A poesia pôde, enfim, voar em seu elemento: o puro sentir!

Não que antes não bebesse dessa fonte, pois os sentimentos sempre foram o seu principal alimento. Porém, a exemplo do amor que cantava, o poema vestia tantas armaduras que a beleza de sua alma ficava restrita aos poucos capazes de entendê-la.

No Brasil, esse panorama sombrio só mudou a partir da década de 1920 com a “Semana de Arte Moderna de 1922”, que revelou, entre outros Mario e Oswald de Andrade e Carlos Drumonnd.

Depois, em meados de 1968, a poesia tomou um novo fôlego com a explosão cultural que seguiu às rebeliões contra a Ditadura e contra o chamado “Sistema”. E como gênero literário, foi revalorizada a partir do surgimento de uma nova e talentosa geração de poetas, tais como Roberto Piva, Chacal e aqueles outros que musicavam os poemas produzidos, pois as letras de rock, de baladas, de sambas, de “músicas de protestos” etc. cantavam os mesmos temas afeitos à poética.

E se fez mais. Junto com o incipiente talento de Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Simone e tantos (as) outros (as); poetas já renomados como Vinicius de Moraes, trocaram a caneta pelo violão.

Outros, sem o talento musical do “Poetinha”, foram integrados à explosão cultural que enfim popularizou o talento e a sensibilidade de João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira, Cecília Meirelles, Thyago de Mello etc. que então adentraram majestosamente em teatros, em cinemas, em shows, sambódromos etc. Em paralelo, assistiu-se ao nascimento de menestréis do porte de Cazuza, Wally Salomão etc.

Mais recentemente, a poesia enquanto expressão do sentir sofre algum prejuízo por conta da baixa qualidade na entressafra de poetas, porém, o futuro próximo se mostra alvissareiro em decorrência das facilidades que a Internet disponibilizou para quem exercita a arte de escrever. Afinal, todos, independentemente do talento, podem publicar seus escritos sem se sujeitarem aos crivos de Editores e Críticos. E certamente essa grande oferta haverá de produzir a qualidade a que o Brasil se habituou.

E é nessa trilha que aprendizes como este escrevinhador se lançam. Homens velhos e novos poetas que buscam ofertar o que lhes passa, o que lhes marca e o que lhes fica.
Cantamos amores findos, amores vindos. Falamos do que vimos, do que ouvimos. Contamos das lutas que lutamos; das utopias que buscamos, dos sonhos que abandonamos e, principalmente, declamamos o que somos: poetas; porque sentimos, mesmo sem saber rimar.



domingo, 17 de novembro de 2013

POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA POR LU NARBOT

Poesia Brasileira Contemporânea
Lu Narbot
I – Conceito
A Poesia Brasileira Contemporânea é aquela que começa a ser feita a partir de 1945, após o Modernismo, e vem até os dias atuais.

II - Introdução
O Modernismo não foi apenas um movimento literário, mas um movimento cultural e social abrangente, que promoveu a reavaliação da cultura brasileira. Liderado por Oswald e Mário de Andrade, começou oficialmente com a Semana de Arte Moderna, de 13 a 18 de fevereiro de 1922.
O Modernismo iniciou a fase mais produtiva da literatura brasileira. O livro inicial deste movimento foi Paulicéia Desvairada (1922) de Mário de Andrade.
A contribuição mais importante do Modernismo foi a defesa da liberdade de criação. Na Poesia, abandonaram as formas poéticas rígidas, valorizaram os temas cotidianos, tratados sem rebuscamento, com linguagem simples. Também é uma poesia de questionamento social, filosófico, religioso, em que o poeta deve estar inserido e refletir o mundo que o rodeia. De São Paulo e Rio de Janeiro, o movimento modernista espalhou-se por todo o Brasil.
Além dos líderes Mário e Oswald de Andrade, fizeram parte do Modernismo: Manuel Bandeira, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Vinicius de Morais, Murilo Mendes.
Seguiu-se uma terceira geração (1945 a 1980), autodenominada Geração de 45, que vinha em oposição às inovações modernistas, por isto foi também chamada de Pós-modernista.
No início dos anos 1940 surgem dois poetas que não se filiam esteticamente a nenhuma tendência, e que são considerados os representantes mais importantes da geração de 45: João Cabral de Mello Neto e Lêdo Ivo.

III – Poesia Contemporânea
Nos anos 1950, como uma reação ao Movimento Modernista, surgiu a Poesia Concreta. Seus fundadores foram Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos ao criar, em 1952 a revista “Noigrandes” (que significa antídoto contra o tédio, em linguagem provençal). Entretanto, a Poesia Concreta só foi oficialmente lançada em 1956, com a Exposição Nacional de Arte Concreta, em São Paulo. A proposta principal da Poesia Concreta é a utilização do espaço gráfico, sem preocupação com a tradição de começo, meio e fim. Por isso, o poema é denominado poema-objeto. Outras características desta poesia são: realismo total contra a expressão da subjetividade, a eliminação do verso, uso de neologismos e termos estrangeiros, exploração da sonoridade das palavras, a possibilidade de múltiplas leituras e o aproveitamento de todo o espaço em branco da página para a disposição das palavras. A comunicação visual é a forma de expressão da Poesia Concreta.
Em 1959, o maranhense Ferreira Gullar e outros poetas cariocas, romperam com o Concretismo e fundaram o Neoconcretismo, insurgindo-se contra o que chamavam de normatização e dogmatismo do Concretismo.
Em 1964, Ferreira Gullar retoma o verso discursivo e os temas sociais, visando retratar uma época e ter maior comunicação com o leitor.
Após o golpe militar e o AI 5, surge a Poesia de Resistência, com Ferreira Gullar, Affonso Romano de Sant’anna, Chico Buarque, Gianfrancesco Guarnieir, Oduvaldo Vianna Filho e Antonio Callado, entre outros.
Nos anos 1970 surgiu a chamada Poesia Marginal, porque não tinha vínculos com as grandes editoras, era produzida de forma independente e não convencional, em gráficas de fundo de quintal, e vendida em portas de cinema e teatros. Em 1980 houve uma “chuva de poesia”, lançada do alto do edifício Itália, em São Paulo. As poesias eram manifestações de denúncia e protesto, que zombavam da cultura e falavam do mundo imediato do próprio poeta.

Alguns poetas não se filiam a nenhuma destas tendências, construindo uma obra pessoal. Entre eles, Adélia Prado, Manoel de Barros, Cora Coralina.

IV - Poetas Contemporâneos
Escolhi entre os poetas contemporâneos, para este trabalho, pela diversidade de seus estilos, Manoel de Barros, Adélia Prado e Paulo Leminski.

Manoel de Barros(Cuiabá, 19/12/1916)
Manoel de Barros, cronologicamente pertence à geração de 45, mas formalmente, aproxima-se mais do Modernismo Brasileiro. Foi considerado por Carlos Drummond de Andrade, o maior poeta vivo brasileiro.

A Menina Avoada – XIII

O riacho
que corre por detrás de casa
cria uma espécie de madrugada rasteira
de viçar meninos...
(do livro Compêndio para uso dos pássaros)

Adélia Prado - (Divinópolis 13/12/1935)
Adélia Prado, embora escrevesse sonetos desde os 14 anos, só publicou seu primeiro livro, Bagagem, em 1976, aos 40 anos, e já mãe de cinco filhos. Em sua obra, Deus, a fé cristã, a religiosidade são constantes, assim como o seu cotidiano de cidade pequena.

Trégua

Hoje estou velha como quero ficar.
Sem nenhuma estridência.
Dei os desejos todos por memória
e rasa xícara de chá.
(do livro Bagagem)

Paulo Leminski (Curitiba, 24/08/1944 – 07/06/1989) –
Em 1964, o curitibano Paulo Leminski começa a publicar suas Poesias na Revista Invenção, publicada pelos concretistas. Herda do Concretismo a construção, os recursos visuais, mas une a isto a coloquialidade. Aproxima-se também dos poetas marginais, pela publicação não convencional de seus poemas.

Do Livro Caprichos & Relaxos

Aves
        de ramo
                    em ramo

meu pensamento
                         de rima
                               em rima
                                            erra

até uma
            que diz
                        te amo.





V – Conclusão
Neste início do século XXI, múltiplas são as tendências da Poesia Brasileira, sem preocupações com normas que a possam engessar, e utilizando-se de diferentes mídias para manifestar-se. No mundo atual, o poeta não apenas expressa sua emoção ou traduz e interpreta a alheia, sua função é, também, questionar e incomodar.
Com o advento da internet, muitos poetas foram surgindo no país. Se anteriormente lhes era impossível publicar, agora o fazem com constância e quantidade na mídia virtual. Nossa Academia, a ANLPPB, é um exemplo de como a internet pode reunir talentos que vivem fisicamente distantes, mas que conseguem comunicar-se e enriquecer seu universo.  Contrariando as previsões, a Poesia não só não morreu, mas continua mais viva do que nunca. Novas formas surgiram, como o Poetrix, a Aldravia, o Overtrip, etc.
Ao contrário do que ocorreu nos séculos passados, todas as formas de poesia convivem pacificamente. Cada poeta é livre para escolher a melhor forma de dizer o que deseja naquele momento.
Entretanto, alerta-nos Fabiano Fernandes Garcez, no texto A Poesia Contemporânea em Debate, publicado no Recanto das Letras:
“Há um grande problema na poesia brasileira, é que ela ainda vive em pequenos grupos de amigos, ainda não chegou ao grande público, há poucas, mais do que antes é verdade, mas ainda poucas, discussões e encontros sobre poesia.”

“Porém, a poesia por seu caráter, edificante e revolucionário, de questionar a realidade, tem que chegar às calçadas, às ruas, aos guetos, enfim a todos, sem exceção, porque quando questionamos a nossa realidade racional damos vozes à nossa irracionalidade emocional e inconsciente, que é o que precisamos entender que o ser humano necessita de algo bem mais caro do que o dinheiro pode comprar.”

sábado, 16 de novembro de 2013

POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA POR TERESA AZEVEDO

POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA

Proposta
Ao receber a proposta de nossa presidente Aline Romariz, senti-me extasiada, afinal, como ela mesma diz – e creio de concordância de todos nós – a Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro“tem a missão de propagar a arte poética e valorizar o poeta vivo”. Esta tem sido a nossa bandeira e o nosso grito onde quer que estejamos.
Assim sendo, e compreendendo-a como um organismo vivo e participativo, reinvindicações pertinentes e planejadas saem do papel para que ações se desenvolvam não só em nosso meio ou no da população em geral, mas também dos governantes.
Apesar de nossos esforços, a poesia ainda é encarada pela maioria como algo de menor crédito e desinteressante. Dentro do próprio meio artístico, inclusive, onde desconhecem a presença da poesia na fagulha que origina todas as artes: o sentir, o tocar, o expressar-se revelam o íntimo estimulado pela poesia. Lá está ela, presente, sem se importar em aparecer como lhe é de direito.

A poesia ao longo dos tempos
A poesia inspirou muitos poetas ao longo do tempo. Grande parte deles, entretanto, só recebeu o devido reconhecimento após sua morte. A proposta do Portal do Poeta Brasileiro vem na contramão desse padrão, pois conta hoje com mais de cinco mil membros. Ou seja, mais de cinco mil poetas brasileiros vivos com a possibilidade de serem lidos.

A poesia contemporânea
A poesia contemporânea é feita e disponibilizada também no ambiente digital, através de e-books para venda ou até mesmo leitura em bibliotecas cibernéticas. Apesar disso, ainda vê-se a edição e impressão convencional, e apesar de várias teorias sobre o fim da leitura em papel, decorrente da onda digital, creio haver público para ambas as formas.
Os poetas não estão escondidos: apresentam sua produção poética em palestras, praças públicas, saraus e outros eventos, fazem-se presentes nas manifestações populares.
Com versos livres, temas fortes e poética eloquente, os grandes poetas vivos nos inspiram e deleitam. São os que merecem ser aclamados e eternizados.

Poetas contemporâneos vivos
Dentre os renomados escritores tocados pela poesia ainda vivos,venho citar Lygia Fagundes Telles. É fascinante ver como ela adentra a alma humana em sua prosa, marcada pela constante análise psicológica. A escritora utiliza-se da linguagem escrita para apresentar a realidade em invólucros de imaginação, fantasia e sensualidade, e suas personagens femininas desenvolvem misteriosas tramas onde complexidade, reflexão e fragilidade são somadas às inquietações naturais às mulheres.
[...]Com a ponta da língua pude sentir a semente apontandosob a polpa. Varei-a. O sumo ácido inundou-me a boca. Cuspia semente: assim queria escrever, indo ao âmago do âmago até atingir a semente resguardada lá no fundo como um feto.(L. F. Telles, no livro “Verde lagarto amarelo”).

Sem qualquer sombra de dúvida, o maior número de poetas contemporâneos brasileiros vivos “ainda vive no anonimato”, a exemplo dos mais de cinco mil poetas do Portal do Poeta Brasileiro, cuja diversidade lírica nos coloca em uma nova era, onde interação e luta conjunta levam aos mesmos propósitos. São Dalvas, Marielas, Fabios, Paulos, Sarahs, Rosanas, Josés, Marias, Lucias, Geraldos, Veras, Anas, Stellas e tantos outros queridos.
Como exemplo, cito nossa presidente Aline Romariz. Alagoana com muito orgulho, mãe-sogra-avó leoa, ousada, autêntica,guerreira, visionária, desbravadora, descobridora e incentivadora de novos talentos, apaixonada pela vida e pelos amigos. Batalhadora incansável pela disseminação da poesia e a valorização do poeta vivo.

BRASILIS
(Aline Romariz)

Somos todos índios
caboclos,mulatos,
negros
Vivemos nos Pampas,
na Caatinga,na Restinga,
no Cerrado
Estamos no mesmo barco!
Num "navio negreiro"
camuflado;
Navegando Chicos,
Tietês,Negros
Somos filhos de um só Brasil,
que são tantos !
Irmãos das Raparigas (ou Marquesas?)
do Porto de Santos
Somos todos pajés,caciques,
curumins insanos
Tocando a vida;
escondendo o pranto
Vivemos todos "sob o mesmo céu"
de uma terra linda, de "um pau de tinta"
chamado BRASIL!

Outro exemplo é Elizabeth Oliveira, uma poeta que, por alguma razão que desconheço, diz que a incentivei. Amo sua poética e seu jeito menina de ser. Como ela mesma se define: “campineira, cabelereira, faladeira, arteira, atleta com alma de poeta, não esportista... Um pouco artista... Carinhosa, teimosa e vaidosa. Sobrevivente... Carente... Dengosa... Amante dos animais... Cheia de ideais. Antes de partir, vou muito sorrir. Ah, deixar saudades... Ainda não quero ir. Amar, ser muito amada... Eu quero é mais”.
“Entre o céu e o sonho existe uma constelação de esperança.
Eclipse: quando o sol e a lua não se aguentam de saudade”
(Elizabeth Oliveira)

A relevância das redes sociais como objeto de divulgação
A multimídia coloca em cena a poesia digital de quantos tiverem acesso a ela. Passa existir uma universalidade da poesia até mesmo para poetas iniciantes que se dispõe a divulgarem suas obras na rede.
Com os recursos sonoros, de vídeo e, muitas vezes, até tridimensionais, surgem novos valores e novas formas de interação poeta/máquina, poeta/poeta, poeta/leitor e leitor/leitor, e faz-se a crescente necessidade de que sejam cada vez mais rapidamente assimilados por todos nós.

Bibliografia
OLIVEIRA, Elisabeth. O Pensador. Disponível em: http://pensador.uol.com.br/autor/elizabeth_f_de_oliveira/

ROMARIZ, Aline. Site pessoal da poeta. Disponível em: http://sitedepoesias.com/poetas/AlineRomariz

WIKIPEDIA. Lygia Fagundes Telles. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lygia_Fagundes_Telles



WIKIPÉDIA. Poesia Contemporânea. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Poesia

terça-feira, 12 de novembro de 2013

POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA POR LIZ RABELLO

POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA

A vida sempre nos surpreende... Encontra-se em constante mudança. Vivemos uma época de novos valores. A era Gutemberg ficou para além do século passado. O livro impresso perece de morte? Diante de tantos livros digitais a resposta me parece óbvia. Até porquê nós nos pegamos a ler muito mais pela Internet do que dentro das folhas viradas. Há de se culpar o conhecimento que nos alça novos voos? Há de se querer voltar páginas de livros antigos? Há de se ter a sensação desagradável de vivermos lá atrás, na contramão do curso da História? É possível fugir ao próprio tempo?

Tenho o hábito de gostar do olho no olho, ir ao Banco, puxar uma cadeira e conversar com minha gerente. Diálogo honesto, sincero, nós nos tornamos amigas. Poderia ter telefonado? Afinal um celular à mão resolve tudo, com rapidez maior, mais eficiente. Mas nenhuma tecnologia substitui o diálogo de mãos que se apertam. Assim é com o livro. Meu olho desvendando letras, mistérios de outros corpos, de outras mentes, descobertas de sentimentos inusitados. No entanto, percebo nos adolescentes um desejo cada vez maior de se comunicar pela telinha. Passei pela experiência de observar duas jovens conversando pelo Face book... Até aí nada de novo, a não ser que estavam uma ao lado da outra, na mesma Sala de Informática, em dois computadores diferentes!

Espelho, espelho meu, quem é mais feia do que Eu? Não, nunca me achei feia, nem mesmo bela. Qual a visão de mim mesma? Por mim? Na ausência de espelhos, numa infância muito pobre, como conseguia me saber? Penso que sempre me vi pelos olhos úmidos de emoção de meu pai. Era puro amor, encantamento! A mais bela imagem refletida. Por suas palavras doces e elogios tinha uma fotografia de mim mesma muito agradável e segura. Sentia-me com pés no chão, mais brilhante como a mais bela estrela. Foi assim comigo, mas não é o mesmo com os mais jovens. Hoje o espelho substitui o olhar do outro.

No colégio em que trabalho existe um elevador. Às vezes é impossível usá-lo, porque fica parado no primeiro andar, para que os alunos possam mirar-se ao espelho. Fila indiana para a visita ao psicólogo: o complexo de Narciso em alta. Não são mais águas de um lago, são espelhos mesmo. Na impossibilidade, serve qualquer outro meio: o celular está de bom tamanho. Flashes e flashes no intervalo inteiro, por vezes até durante a aula, com direito a boquinhas de Angelina Jolie ou dedos em sinal de paz.

Cada meio de comunicação nascido revela forças interiores de outros meios. Percebo nos adolescentes que o celular é um brinquedinho, se fotografam, se escrevem mensagens, se procuram. Trocam celulares uns dos outros, para se “olharem” mutuamente. Um ao lado do outro. Pego meus meninos se alimentando de auto-imagem narcisista, muito mais do que se comunicando com os outros. O celular, o MP3, o tablet, são extensões de seus próprios corpos. O livro impresso é um elemento antigo. Representa o passado. E eles se vestem de presente.

Toda tecnologia nasce para nos inflamar de mais poderes. Supera limites do corpo humano. O tablet substitui o caderninho de notas, o teclado do computador substitui a máquina de datilografia, que por sua vez é uma possibilidade de extensão de dedos, que com o auxílio de canetas, lápis, cadernos escrevem nosso mundo interior. No entanto, nenhum programa de computador, nenhuma imagem, nada, absolutamente nada, existe sem o toque do ser humano. O homem é a essência! E neste fluxo, de dentro para fora de seu mundo interior está a poesia contemporânea.

Certa vez decidi trazer para a rotina da sala de aula poemas inéditos. Não dos mestres: Cecília Meirelles, Carlos Drummond, Pablo Neruda. Que poetas assim, tão conhecidos, já são declamados demais. O projeto da Escola era Humanizar o Jovem no mundo da Tecnologia. A proposta chegou rápida: Vamos pesquisar poetas anônimos. Descobrir caminhos novos. E num repente, junto com os adolescentes, Luciana Dimarzio, a minha frente:

“Brotam-me palavras
puras
cruas
nuas
para vesti-las a meu bel prazer
(fatigo-me das roupas emprestadas)”

Esta poetisa, cuja família está em primeiro lugar, mora em Campinas, São Paulo, e seu talento com as palavras se revela num maravilhoso livro de poemas e frases Reversos (in) Versos, pela Editora Braspor, publicado em Dezembro de 2012. Em março do ano seguinte já foi laureada com o prêmio Mulher Destaque na Literatura pelo CPAC (Centro de Poesias e Artes de Campinas). Em maio deste ano recebeu o prêmio Troféu Staff de Ouro 2013 pelo destaque cultural. Mas quando a conheci pela Internet, era apenas a Lu do Face book, a Luciana do Canto da Lu, com um Blog gostoso de ler, já mostrando um talento insuperável com as palavras, que a fez conquistar permanentemente a Cadeira número dois da Academia Nacional de Letras Portal do Poeta Brasileiro.

“Escrever é transformador. Sempre que me converto em palavras já não sou a mesma. A cada metamorfose, sinto-me não necessariamente melhor, porém mais inteira.”
(Luciana Dimarzio)

Assim procurando blogs é que descobrimos a talentosa poetisa Adriane Lima, que ocupa a Cadeira Cinco na Academia Nacional de Letras Portal do Poeta Brasileiro, em cuja simplicidade adolescentes encontram rios de ternuras:

Fiz um pacto com a Lua.
Engravido as palavras
 formas redondas e uterinas
de lá saem os poemas
 minha salvação e sina...
 Adriane Lima

No entanto, não são todos os lugares do nosso imenso e desigual Brasil que são contemplados com equipamentos tecnológicos, de fácil acesso aos nossos jovens. Neste palco da indiferença, ressalto o trabalho valioso de Maria Alves Lamanna. Não é professora, nem sequer conseguiu cursar ainda uma universidade. Seu grande sonho! Mas suas ações demonstram o ser humano lindo que é. Mora na cidade de Rio Preto, em Minas Gerais, no pequeno povoado de São Pedro do Taguá, zona rural, onde a pobreza impera. Atriz, roteirista, escritora, compositora, escultora, poetisa e declamadora como ninguém o faz, tem um trabalho voltado para o Incentivo à Leitura: “Poesia Pra que te Quero”. Neste pequeno povoado, onde nasceu, criou uma biblioteca, contando com a solidariedade dos amigos. Hoje suas ações se encontram para além de uma leitura bem aprimorada pelas crianças, poetas, trovadores e escritores, pessoas humildes escrevem um novo destino.  Membro da ANLPPB, Cadeira Vinte, é representante do Núcleo do Portal do Poeta Brasileiro no Estado de Minas Gerais.

Quando pensamos riscamos um destino, quando falamos compartilhamos ideias, mas quando escrevemos nosso ato é de fato existente e não há como retomar o caminho. Se publicamos o outro toma posse de nossos pensamentos e uma grande teia de palavras se faz existir. O valor da tecnologia está nesta possibilidade de trocas rápidas, sem se falar de como é bem mais fácil o contato com as Editoras. Pelo menos por enquanto: o livro nunca esteve tão vivo como agora. Nem a poesia.

E se por um lado é possível salientar o valor da tecnologia, por outro, quem tem convivência com jovens sabe o quanto querem frequentar a Sala de Leitura dos colégios. Ficam de olhos extasiados procurando em livros poemas que gostam de ler, histórias que amam saber, amores que adoram descobrir.

Quem tem experiência com Saraus entre os jovens sabe muito bem que adoram apresentar poemas de própria autoria. Sentem-se mais seguros. Se fosse verdade que jovens não gostassem de ler, como se explica este fascínio pela escrita? Muitos adolescentes mantêm cadernos de poesias em rascunho, à moda antiga, escritos com desenhos em forma de corações. Qual a origem deste percurso? Os sentimentos: Amor sempre está em alta. Nunca morre!

Não sou

Maria Alves Lamanna

Não sou um soneto
Não sou uma trova
Sou um dedo de prosa
No meu caminhar
E assim vou andando
Tentando entender
No seu jeito de ser
O amor...
E o amar...
Não sou um soneto
Mas queria ser
O lirismo de Camões
Que mesmo em chamas
Seria um amor
De belas canções.

Liz Rabello


  

sábado, 9 de novembro de 2013

RESULTADOS DO CONCURSO DE TEXTOS SOBRE O MEIO AMBIENTE NA CIDADE DE MAUÁ-SP

 O Projeto Primavera é uma iniciativa da Acadêmica e Vice-Presidente da ANLPPB, Dra. Ana Stoppa.
 E nós do PORTAL DO POETA BRASILEIRO E ACADEMIA APOIAMOS ESTA CAUSA.



Abertura do Projeto com as redações classificadas do Colégio Barão de Mauá 

 EE Padre Afonso Paschote

EE Profa. Irene da Silva Costa

 EE Olavo Hansen

EE Vereadora Lea Aparecida de Oliveira


 EE Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A POESIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA por Angela Ramalho


            Falar de Poesia Brasileira Contemporânea significa falar da poesia que se produz hoje em território nacional. Quem são os poetas brasileiros contemporâneos? Quantos são? Onde estão? Que estilo de poesia produzem? 
            Eduardo Vaack, poeta brasileiro contemporâneo, afirma que “a poesia produzida atualmente no Brasil é bastante diversificada, possuindo inúmeras cores, tendências e matizes”.
            Já a jornalista Andréia Martins, contrariando outros posicionamentos sobre o tema, afirma que a poesia brasileira não saiu de cena e que os poetas brasileiros contemporâneos continuam ativos, criativos e irreverentes. É inegável a importância da Poesia Brasileira Contemporânea e nunca se viu tantos blogs e tanta disseminação de poesias nas redes sociais por esse país.
            Atualmente vejo muitos poetas (e me incluo entre eles), divulgando seus escritos nas redes sociais, em blogs, jornais, revistas eletrônicas, publicando em antologias, participando de lançamentos e eventos literários, numa verdadeira ânsia em obter reconhecimento. Não que isso não seja importante ou não deva ser o objetivo de escritores iniciantes. A esse respeito, a Revista Eutomia, especializada em literatura e linguística, em artigo sobre a Poesia Brasileira Contemporânea, afirma:

“Parece não ser vital que o poeta se interesse pelos meios que seus escritos chegarão às pessoas, se a  obra  é  marginal  ou não, nem se a poesia chegará a ter, hoje ou amanhã, a atenção que é dada à prosa, o que  na verdade  não  interessa,  pois  não  é  a  partir  disso que deve acontecer  algum  parâmetro, mas sim no  que  ela  pode oferecer como investigação para o mundo”.

            Talvez, antes da preocupação em divulgar nossa produção literária, deveríamos nos perguntar: O que a nossa poesia pode oferecer como investigação para o mundo?
            Quanto ao mundo penso que seja algo muito amplo ou abstrato, mas nossa poesia pode oferecer uma gama de investigações para a nossa cidade, o estado em que moramos e principalmente ao nosso país.
            O nosso olhar para a poesia não deve distanciar-se da realidade social. A Poesia Brasileira Contemporânea será tão importante, tão lida ou tão valorizada, na exata proporção em que incomodar.
            Em abril de 2013 uma comitiva de poetas contemporâneos entregou no Senado Federal a obra “Manifesto Poético pela Paz”. Antes mesmo que o país acordasse e se organizasse para as manifestações de rua que assolaram o país durante o mês de junho, poetas brasileiros contemporâneos pertencentes ao Portal do Poeta Brasileiro (cerca de cinco mil poetas) e a ANLPPB – Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro (aproximadamente cem poetas) reivindicaram providências através da sua arte.  
            A sensibilidade desses poetas sinalizou antecipadamente que as coisas no país não estavam bem. Não havia nenhum sinal de manifestações, mas os poetas brasileiros abriram caminho, numa atitude até então inédita.
            Aline Romariz e Teco Seade, respectivamente Presidente e Diretor Cultural do Portal do Poeta Brasileiro e da ANLPPB assim se pronunciaram, abrindo o manifesto:

“Chega de escrever a História do Brasil com tinta vermelha. Não aguentamos mais boletins diários regados à lágrimas de mães, cenas dramatizadas  pelo  desespero de pais, vazios em vidas de jovens que ainda não possuem o macro entendimento do que está acontecendo quando enterram  um  amigo. Nós  somos  mais  que isso. Nós temos que ser mais que isso. Não  é  possível  que  o Brasil, esse celeiro de talentos, continue adubando  suas  terras  com carne  humana  ceifada  de suas famílias. Quantos mais terão ido?  Quantos  mais  terão  tirado a roupa aos 07 ou 10 anos de idade, para o turismo sexual? Quantas mais terão ficado grávidas dentro de casa?  Quantos  mais  espancamentos de mulheres, crianças e idosos? Diante  de tudo isso, nossa poesia sobrevive. E sobrevive para gritar. Gritar muito alto. E continuará gritando aos quatro cantos enquanto houver desmando, impunidade, opressão,  ignorância, fome e corrupção. Que Deus nos perdoe. E que assim seja”.

            Eugène Delacroix, pintor francês que viveu de 1798 a 1863, já dizia que “o mais belo trunfo de um escritor é fazer pensar os que podem pensar”. E olhem que isso foi dito por um pintor!
            Acontece que tanto a pintura quanto a literatura, assim como as artes em geral, devem levar à reflexão quem delas sofre influência. O escritor, independente de ser amador ou não, tem responsabilidade social. Sua escrita contém a sua visão de mundo, mas ele não pode esquecer que exerce papel fundamental na formação de seus leitores.
            Refletindo sobre a produção literária de alguns escritores contemporâneos, cito aqui três autores brasileiros que, com suas obras, cumpriram com sua responsabilidade social de me fazerem pensar: São eles: Lu Narbot, Marco Hruschka e o poeta parnaibano Diego Mendes Souza.

Lú Narbot escreve de forma clara, usa de suavidade com as palavras, transcreve a realidade nua e crua, mas com tamanha sutileza, que não consegue nos assustar ou ferir. Dona de um lirismo extraordinário, seus textos nos fazem meditar, como no poema abaixo:


Meditação

Agora eu tenho tempo de olhar lá fora
E ver o sol.
Mas já não há  mais sol.
Por que é que na vida
Ou passamos correndo demais
E nada vemos,
Ou,
Quando paramos,
Nada mais há para se ver?

Marco Hruschka  dispensa apresentações. Ele mesmo se apresenta: “Eu escrevo para que as pessoas sintam e pensem em demasiado, para que saiam da normalidade de suas vidas. Para mim, a literatura tem a função de tirar o indivíduo de seu eixo. É dessa forma que procuro contribuir”.  
E ele literalmente nos tira do eixo quando escreve algo assim:

Semitonar-se
Às vezes só os bemóis me acalmam...
Porque no sofrimento semitonado
Encontro a fonte das dores que exalam
Tudo aquilo que não posso suportar.
Existe ali uma angústia...
Algo anterior ao mundo...
Uma coisa que jaz...
E que ao mesmo tempo
Faz com que eu renasça!
O sofrimento é revigorante!
Quem não sofre não é feliz!
Não vejo sequer uma luz ao longe,
Nem perto, nem nunca
E mesmo assim tudo cresce em mim.
Mas a esperança é a primeira que morre.
E é justamente isso que dá sentido
A essa posição fetal na qual eu me encontro.
Me encontro...
A vida é um eterno semitonar.


Diego Mendes Souza, com o seu “Candelabro de Álamo” me ganhou quando disse: “Acredito na poesia que eu proponho te fazer escutar”.
Precisa mais? Não! Sou toda ouvidos para escutar a poesia que me propões!

A poesia está soprando novamente

Amolinda, tenho que dizer
Que a poesia está viva
Dentro de mim.
A poesia está soprando novamente, Altair.
Eu que permaneço em silêncio
E a poesia me rapta
Sem que eu creia
Nas divindades.
Olho os teus olhos
E sei que a poesia me busca
Veloz e sorrateira
Como um astro andaluz.
Encontro as tuas mãos navegantes
Nos meus abismos de manhãs.
A poesia vem com a aurora em neblina
E em teus cabelos se faz passageira.
A cigana e a fera
A minha febre
Derradeira.



OLHA O MOTE!!!



 Sou pontual.
Será virtude
ou mania?
(Os ponteiros do relógio
não permitem fantasia).

Lu Narbot




Tudo são tempestades e bonança.
Por isso, me debruço a escrever poemas
Entrego minha alma à poesia

Vera Margutti









Feito menino feliz
Corre apressado o tempo
Diante do nosso nariz

 Ana Stoppa








 a justiça é o próprio tempo
a gente só não pode marcar
a hora é essa a gente espera
o tempo é que não pode esperar

Ismael Rocha








E, assim, o tempo passou.
Um dia acordei e meus olhos derramavam solidão

Lin Quintino










Tempo que voa e se esvai
se não for aproveitado não volta mais...

Flavia Assaife
  





 o tempo é escasso para alguns,
 pode ser em demasia para outros. 
Necessitamos usufruí-lo com qualidade,
 equilíbrio e consciência de sua fugacidade.

Silvana Gonçalves Luiz